Confira o texto de Francisco Zaidan

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O jogo Brasil e Croácia demonstrou bem os pontos fortes e as incógnitas da seleção. Daniel Alves já há algumas temporadas sofre demais na marcação e não apoia com a desenvoltura de outrora, parece estar sempre travado; Marcelo quando controla seu emocional é um grande jogador, passou no teste ao fazer um gol contra e se manter sereno e fiel às suas características de jogo, capaz de ousar e dar alternativas como poucos na seleção; Thiago Silva é inquestionável (mas já teve fases melhores) e David Luiz é capaz de contagiar os seus companheiros e a arquibancada com sua fibra e incessante correria descabelada atrás dos atacantes; Paulinho comprovou não estar nada bem como já indicava a última Premier League; Luiz Gustavo, o menos midiático dos titulares, fez uma excelente partida, eficaz e discreto como sempre, deu segurança ao time; Oscar fez uma primeira parcial discreta e um segundo tempo brilhante; Hulk decepcionou-me, sempre o apoiei mesmo quando ignorantemente o enxergavam como um trombador, mas ontem não deu alternativas ofensivas, não apoiou Dani Alves na marcação como fizera na Copa das Confederações e nem acertou um chute sequer; Fred foi o Fred pós Confederações, pouco participativo, irregular, pode fazer um hat-trick em um jogo e não tocar na bola no seguinte, nada fez além da escandalosa cavada que deu no pênalti enganando Nishimura; Neymar foi Neymar, decisivo, nunca se omitiu do jogo e de sua responsabilidade de craque.

Ocorreu tudo como o esperado, uma onda de patriotismo sufocante; vaias e xingamentos à Dilma e a FIFA, onde estaria Lula? Esse sim, mais do que um símbolo, é o responsável direto por essa herança torpe – gostemos ou não de uma instituição e autoridade, sendo nossas reclamações e demandas justas ou não, xingar alguém, desde o bandeirinha assustado até a presidente com pompas, é um sinal claro de falta de educação, cultura e elegância, além é claro do fato de haver modos muito mais eficazes de demonstrar descontentamento -; uma festa de abertura digna de causar vergonha nos homens de bom senso e, principalmente, bom gosto, se a organização festiva foi exclusivamente idealizada e gerida pela FIFA, não interessa, mais uma vez doamos uma Neo -Zona franca de Manaus para usufruto dessa empresa “sem fins lucrativos”, podem rir;  um jogo onde o Brasil esteve longe de ser brilhante, mas venceu pela boa atuação individual de alguns jogadores.

Enquanto o próprio brasileiro estereotipar-se reforçando os clichês étnico-sociais que o cercam, não temos o direito de ficarmos ofendidos quando os estrangeiros verbalizam suas versões fantasiosas de uma terra onde só há samba, futebol (mal sabem eles que o futebol é cada dia menos praticado, não existem mais várzeas aos montes e com o fenômeno violência, a ideia de crianças jogarem bola nas ruas causa pânico nos pais, esses preferem, por segurança e comodismo, terem ao alcance de seus olhos suas crias vidradas no computador) e mulheres servidas como um leitão na bandeja. Dizemos que somos mais do que esse olhar ignorante e malicioso típico dos colonizadores, mas na primeira oportunidade de demonstrar algo mais, só sabemos mostrar mais do algo menos, da versão pornochanchada carnavalesca que lutamos por desconstruir, não como fim, mas como meio de berrar: “chega, somos mais do que isso, nossas mães, irmãs e esposas não são objetos, muito pelo contrário; o carnaval não é mais uma festa popular, é um negócio no mínimo suspeito e cada ano com menos espaço aos pierrôs de bolsos vazios; aqui temos Egberto Gismonte, Yamandu Costa, Elomar Figueira Melo, etc.”. Há pouco tempo, o brilhante Geneton Moraes Neto entrevistou o cansado e confuso Geraldo Vandré, com seu rosto barbudo, desleixado, envolvido pelo resto de sanidade que não o abandonara, e ele disse “vivo exilado em um país só meu, em um Brasil que não existe mais”. Pois bem, assim me sinto, não em um Brasil que não existe mais, mais em uma existência irreconhecível aos olhos de um país que despreza quem o respeita.

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