Saída do volante multicampeão é divisor de águas para a nova fase. Foto: Daniel Augusto Jr/Corinthians

Saída do volante multicampeão é divisor de águas para a nova fase. Foto: Daniel Augusto Jr/Corinthians

O Corinthians foi rebaixado à Série B do Campeonato Brasileiro em 2007 e desde então deu início a um processo de reestruturação que levou o clube a alcançar a glória máxima no futebol, com o título mundial conquistado em 2012. Com Mano Menezes, a ideia de um time sólido defensivamente entrou em funcionamento ao longo da segundona, em 2008, e culminou nos títulos paulista e da Copa do Brasil, em 2009.

Em 2010, ano do centenário do clube, não houve conquistas, mas assim mesmo o Corinthians brigou na ponta de cima do Brasileirão e pavimentou o caminho para os títulos brasileiros, em 2011, da Libertadores e do Mundial de Clubes, em 2012. Novamente, sob o comando de Tite, essas glórias tiveram como base um time que sofria muito pouco na defesa.

Após um período fora do clube, Tite retornou em 2015 e montou o melhor Corinthians da década de 2010. O time que levantou a taça do Brasileirão de 2015 jogava um futebol vistoso e ofensivo. O toque de bola e as triangulações davam o tom de uma bela orquestra futebolística, regida por Adenor, fora de campo, e por Renato Augusto, dentro das quatro linhas. E a defesa? Apesar de um pouco esquecida pelo bom desempenho do ataque, continuava ali, firme e forte, comandada por Gil e Felipe.

Discípulo de Tite, Fábio Carille manteve a filosofia corintiana da solidez defensiva e com isso obteve sucesso relâmpago. Logo em sua primeira temporada no comando técnico do Alvinegro, o treinador levou o Paulista e o Brasileirão de 2017. Em 2018 e 2019, o Corinthians de Carille sagrou-se campeão estadual, completando assim o tricampeonato seguido que não vinha desde 1939. O segredo? Obviamente, um time que levava pouquíssimos gols.

Apesar do título do Paulistão, 2019 não foi um bom ano para o Timão. O desempenho cambaleante ao longo do Brasileirão, ilustrado por um time inoperante no setor de meio de campo e que, consequentemente, sofria para marcar gols, resultou na saída de Fábio Carille. O final de temporada foi sob o comando do interino Dyego Coelho e o baixo nível técnico do Campeonato Brasileiro somado aos excelentes desempenhos de Flamengo e Athletico permitiram que o apático Alvinegro lograsse uma vaga à pré-Libertadores.

Então veio a decisão pela quebra do paradigma do jogo pautado na força defensiva. A contratação de Tiago Nunes, que vinha fazendo um ótimo trabalho no Furacão através de uma ideia de jogo que preza pela posse de bola e pelo jogo ofensivo, indica que o Corinthians quer deixar de lado a filosofia que dominou o futebol do clube na última década.

Com a mudança, um dos pilares da ideia de jogo do clube nos últimos anos perdeu espaço e seu contrato foi rescindido. O primeiro volante Ralf, multicampeão pelo Timão, foi preterido por outros jogadores com uma saída de bola mais eficaz, que condizem mais com a ideia de futebol de Tiago Nunes. Muitos torcedores corintianos e parte da imprensa criticaram a forma pela qual o desligamento do atleta foi realizado. Alguns clamaram por uma despedida digna e por um agradecimento mais incisivo por parte do clube.

Não há dúvidas de que Ralf é ídolo do Corinthians e uma das figuras mais significativas de uma das fases mais vencedoras da história do clube. O torcedor corintiano tem que ser grato aos serviços prestados pelo volante e certamente o nome de Ralf jamais será apagado da história do Alvinegro. Contudo, não se deve romantizar muito no futebol atual.

Foi-se o tempo em que jogadores jogavam a vida toda por um só clube por lealdade e amor. Vivemos tempos de salários astronômicos na elite do futebol e como em todas as esferas do mercado de trabalho, o que manda é a grana. Não se pode esquecer de que, ao final do Brasileirão de 2015, o Corinthians passou por um desmanche quase que total do elenco campeão, assediado principalmente pelo dinheiro chinês.

Ralf havia renovado com o clube ao término da competição, mas bastou os chineses pagarem a multa rescisória baixíssima de seu contrato para o volante entrar num avião, sem dar nenhuma satisfação ao clube, e partir para o outro lado do mundo. Ele estava errado? Não. Como qualquer profissional, foi em busca de um salário melhor que o pudesse garantir por muitos anos.

Passado um período, o atleta voltou ao Brasil e o Corinthians novamente lhe abriu as portas. Estava errado o Corinthians? Também não. O alvinegro levou em consideração a história do volante no clube e o atleta ainda foi útil ao futebol corintiano. Percebe-se? Não há certos ou errados em toda a situação. Futebol é negócio e temos que nos acostumar com isso. Simples assim.

 

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