Dizem que a imaginação dos cancerianos é grande.
Os astrólogos atestam que a Lua, seu astro regente, é a culpada por isso.
Sou canceriano.
Tive a curiosidade de pesquisar meu mapa e também fiz uma consulta (impressionante) com um astrólogo védico, indicação de uma amiga.
Não sou um canceriano "comum".
Quando nasci, além do Sol, a própria Lua, Marte e Júpiter também estavam estacionados nos limites do caranguejo zodiacal.
Vim ao mundo de parto normal em uma Lua Nova, algo que segundo o tal astrólogo é um fato raro.
Nem vou entrar em detalhes sobre Vênus em Gêmeos naquele domingo, 17 de julho, o que me traz problemas amorosos desde que me apaixonei pela primeira vez pela menina mais encrencada da escola, no 1º ano do Primário...
Cabelos desgrenhados, brava como uma onça.
Uma precursora real da ficcional Juma Marruá
Faço o preâmbulo (sou fã dessa palavra) para entrar no meu assunto favorito: corridas de carros.
Dois dos meus brinquedos favoritos na infância me tornavam projetista de carros de F1: os "Pinos Mágicos", ainda fabricados, e o "Poli", versão raiz que precedeu o gourmetizado "Lego". Da minha lavra pueril saíram umas traquitanas até que bem arrumadas.
Nos anos 70, início dos 80, os projetistas pareciam querer "inventar a roda", e os carros eram muito diferentes entre si.
Meu piloto favorito, o saudoso Vittorio Brambilla, aprontava poucas e boas a bordo de sua linda March cor de laranja que tinha um aerofólio dianteiro que mais parecia a pá de uma escavadeira virada para baixo.
Na mesma época, a Ferrari (de Lauda e Regazzoni) tinha uma asa à frente em uma única lâmina, enquanto a Tyrrell (de Scheckter e Depailler), ainda que tivesse um bico semelhante à March de Brambilla, causava frisson com as seis rodas em seu icônico modelo P34.
As linhas laterais dos carros também eram muito diferentes.
Em uma época em que pouco se falava em "túnel de vento" e o computador era um sonho distante para substituir o suor sobre as pranchetas, o que valia mesmo era ter um motor potente.
Por isso, o projetista que conseguisse o chamado "pulo do gato" no desenho do carro saía na frente.
Porém, hoje, parece que basta colocar as informações do regulamento em um sofisticado programa de computador para que o desenho do carro esteja pronto.
Claro, estou exagerando. Os motores tem tamanhos diferentes, tem os escapes, a distribuição de peso, o horrendo e pouco eficaz halo. Assim, tudo precisa ser calculado por uma cabeça pensante, além do que é pretensamente elaborado pelo computador.
Por isso, a impressão que dá, toda vez que um novo carro de F1 é lançado, como aconteceu com os dois que já foram apresentados até aqui, para a temporada de 2018, o Haas VF-18 e a Williams FW41, é a de que os projetistas tem um grupo no WhatsApp e ficam trocando "figurinhas", e que nenhum deles quer ser o "ponto fora da curva", e fazer algo diferente.
Parece mesmo que o nível de sofisticação do desenho dos carros chegou a um limite que impede isso.
A última grande revolução que vi, algo que realmente surpreendeu, foi o aerofólio em forma de "Prestobarba", ou "Dentes de Sabre" da Williams, em 2004.
Eu, se tivesse seguido minha pretensa vocação de projetista de carros de F1 com meus "Pinos Mágicos" e "Poli", sairia do grupo do WhatsApp e faria algo para ruborizar o geminiano Gordon Murray, meu projetista favorito.
Mesmo que o carro fosse o último do grid...
E pintaria uma Lua Cheia e um caranguejo no bico, pra dar sorte!
Editor de automobilismo do Portal Terceiro Tempo, começou no site de Milton Neves em 10 de março de 2009. Também atua como repórter, redator geral, colunista e fotógrafo. Em novembro de 2010 criou o Bella Macchina, programa em vídeo sobre esporte a motor que já contou com as presenças de Felipe Massa, Cacá Bueno, Bruno Senna, Bia Figueiredo, Ingo Hoffmann e Roberto Moreno, entre outros.
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