
A agência Modesto era ponto de encontro de muitos do boxe e eu conheci lá o Sebastião Ladislau (Gibi), Kaled Curi, Lúcio Ignácio da Cruz e muitos outros ex-boxeadores. Sabendo da agência Modesto, do Antonio Dal Rovere, foi até a agência o Ralph Zumbano e marcou com o meu pai um encontro comigo naquele local. A conversa de Ralph Zumbano comigo, foi um convite para eu ir treinar na academia de boxe que ele estava para inaugurar muito próximo dali, na Rua Varnhagem, 44 sobre-loja, a única travessa da Ladeira Porto Geral na região da rua 25 de Março e ele ser meu técnico. Depois de conversar com meus técnicos: Felipe Cambeiro e João Henrique da academia da SEME, fiz o desligamento da academia que eu estava defendendo e a transferência para a academia do BCN com o técnico Ralph Zumbano. Treinei e lutei pela academia BCN de 1977 a 1979, em 1977 treinei luvas (escola de combate) pela primeira vez com o sobrinho do Ralph Zumbano, Eder Jofre e ele (Eder) estava com apenas 41 anos de idade, interaço. Primeiro a emoção de treinar com ele e ainda na época ele batia até na sombra, são momentos marcantes que a vida me presentiou.
Tonico Zumbano era uma figura impar, conheci em 1975 no CMTC Clube, ele comparecia nas programações de boxe as terças-feiras para assistir os boxeadores amadores e também as sextas-feiras nas lutas de profissionais,ele estava sempre de camisa aberta no peito e o cigarro na boca.
Essas programações de boxe amador e profissional citadas acima, eram transmitidas pela TV Gazeta, com narração de Peirão de Castro, comentários de Newton Campos e o apresentador era Rubens Pecce.
Kaled Curi dando entrevista do lado esquerdo da foto e do lado direito com o pé no banco Ralph Zumbano, ambos na equipe brasileira de boxe dos anos 40Não é possível escrever sobre o boxe brasileiro sem citar a importância da família Zumbano para o desenvolvimento da modalidade em nosso país.
Na década de 40 tornou-se atração nas programações o peso médio Zumbanão, ou Antonio Zumbano ou ainda como era chamado, Tonico Zumbano.
Quando Zumbanão lutou e venceu por nocaute no sexto round o credenciado francês Henry Puig os meios pugilisticos brasileiros só falavam da potência dos punhos do peso médio brasileiro que eram equivalentes aos de um peso pesado.
Enquanto Zumbanão estava no auge, outro Zumbano, o Waldemar tinha dependurado as luvas, mas não saiu do meio boxistico e passou a fazer as programações das lutas preliminares dos eventos de boxe, "casar" as lutas entre os boxeadores (match maker).
Outro Zumbano, Zumbaninho, Ralph Zumbano (Ralph Beneticto Zumbano, seu nome completo) começava a se destacar, não pelos socos fortes como os do Tonico, mas pela técnica aprimorada que mostrava em cima do ringue.
E na programação dos finalistas Tonico Zumbano contra o francês Henry Puig, além de nomes expressivos do boxe brasileiro da época como Lúcio Ignácio da Cruz e Vicente do Santos na categoria de meio-pesado, ( o primeiro, Lúcio Ignácio da Cruz depois que parou de lutar, foi técnico do hoje senador Eduardo Matarazzo Suplicy e o segundo, Vicente dos Santos era conhecido como o "Touro de Osasco", boxeador da cidade de Osasco e que resistia a todos os golpes desferidos pelos seus adversários sem cair).
Ainda nas lutas preliminares da luta entre "Tonico Zumbano vs Henry Puig", tivemos na categoria de pesos pena dois boxeadores que pertenciam a mesma academia, do São Paulo Futebol Clube, muito amigos e treinados pelo mesmo técnico: Aristides Jofre.
E por causa dos motivos descritos acima, clube, treinador e amizade, o Kaled Curi foi até o Waldemar Zumbano perguntar por que marcaram a luta entre ele, Kaled Curi e o Ralph Zumbano? A resposta do Waldemar foi breve, ele (Ralph) que pediu, acrescentando: vocês que se entendam lá dentro (lá dentro significa no ringue).
Kaled Curi venceu essa luta por pontos e ainda impôs uma queda ao Ralph Zumbano no terceiro round. A luta mereceu comentários até do cronista Álvaro Duarte do Diário de São Paulo como "a mais linda luta de amadores".
Na mesma programação tivemos o Zumbaninho perdendo por pontos para o Kaled Curi e o Zumbanão vencendo de forma espetacular o francês Henry Puig por nocaute e fazendo história.
Ralph Zumbano eu conheci em 1977 na agência de revista Modesto, cujo endereço era no Viaduto Santa Efigênia, 277 e 281, no centro da cidade de São Paulo, onde meu pai, Antonio Dal Rovere trabalhava, nessa agência de revista trabalhava também o Vito Di Donato (ex-diretor da federação de boxe dos anos dourados do boxe brasileiro).
Nos anos 70, nessa agência Modesto, passavam por lá para conversar com o Vito Di Donato e também com o meu pai, o jornalista Kaled Curi e o advogado Lúcio Ignácio da Cruz.
Kaled Curi no centro do ringue aguardando resultado da luta e com o braço em seu ombro, seu técnico Kid Jofre e ainda na foto, o primeiro a esquerda da foto usando óculos Waldemar Zumbano
Equipe brasileira de boxe dos anos 40, o primeiro a frente é Kaled Curi e logo atrás Ralph ZumbanoImagem: @CowboySL