Esta semana Bia Haddad foi eliminada na segunda rodada de Seul e perdeu muitos pontos no ranking, pois havia vencido este mesmo torneio no ano passado. Agora ela é a 40ª na classificação da WTA, um golpe duro para alguém que tinha sonhos de vencer um Slam este ano e de se firmar entre as top ten.
Há momentos em que talvez seja melhor ficar quieto e deixar o atleta digerir seu sofrimento, aprender com ele. É fácil imaginar como Bia deve estar frustrada e talvez até pensando em dar um tempo na carreira. Aliás, muitos estão sugerindo exatamente isso: que ela pare por um tempo e priorize a sua saúde, o seu equilíbrio.
Mas não é tão simples. Uma parada prolongada faz a/o tenista despencar no ranking e tudo se torna mais trabalhoso na hora de voltar a competir. Não será mais cabeça de chave e já enfrentará algumas das melhores nas primeiras rodadas. Pelo que conhecemos da Bia, achamos difícil que ela decida se afastar das quadras agora.
Então, o ideal seria, como dizem, trocar os pneus com o carro em movimento. Ou seja, buscar uma fórmula de voltar a vencer e, mais do que isso, voltar a sentir prazer de jogar tênis sem abandonar o circuito. Sinto que ela está confusa sobre a tática ideal a empregar nas partidas. Ultimamente parece ter tentado ser mais regular, diminuindo a potência dos golpes, mas não tem dado muito certo.
Longe de ser uma tenista com técnica perfeita, com deficiências no serviço, no jogo de rede, nos slices e nos toques sutis, como deixadas e lobes, Bia tem a seu favor um jogo explosivo, forte, que mesmo errático já lhe deu grandes vitórias. Creio que o caminho seja por aí.
Com uma ótimo altura (1,85m), canhota, ela pode usar o seu saque para forçar o erro das adversárias. Como? A lógica é fazer o óbvio: sacar aberto no backhand das oponentes e aproveitar a devolução para atacar. E ser agressiva também nas respostas. Foi jogando assim que ela já venceu algumas das melhores tenistas do mundo.
E se não der certo? E se continuar perdendo? Paciência. Aí sim talvez seja a hora de dar um bom tempo. Já me disse um técnico certa vez que o tênis é uma fábrica de loucos. Treinar e jogar todos os dias, viajar o tempo todo, viver longe de casa, longe das pessoas que se ama, e sempre pressionado para vencer, não é para qualquer mortal. Um dia o cara pode querer largar tudo, como já aconteceu muitas vezes, principalmente com garotas.
Niége Dias e Dadá Vieira são dois exemplos de ótimas tenistas que desistiram precocemente da carreira para voltar para casa. Bia tem 29 anos, ama o tênis e certamente pode usufruir por muito mais tempo dos prazeres que o esporte, a fama e os altos prêmios podem proporcionar. Para isso, porém, precisa voltar a ser aquela tenista agressiva, destemida, aquela Bia que soltava o braço sem medo de ser feliz!