O futebol brasileiro vem perdendo a sua identidade dia a dia. Basta ver os nomes dos jogadores. Diego Cavalieri, Rodrigo Souto, Michel Bastos, Rogério Ceny, Éverton Ribeiro, Júlio Baptista, Lucas Lima, Anderson Martins e Fernando Prass são apenas alguns dos nomes falados durante a transmissão de uma partida. Muitos são pomposos, poderiam perfeitamente fazer parte da lista do corpo docente de um curso para ph.D. em Física Quântica ou, então, de membros de um conclave.
Mas aí eu pergunto: cadê os apelidos? Nossos jogadores não têm mais apelido. Na última copa, apenas na semifinal contra a Alemanha, nossos jogadores foram chamados de alguma coisa diferente do nome de batismo. Apesar de que era um apelido coletivo, começando com fi... e terminando com ...uta!
Gerações antes e depois da minha se acostumaram a chamar craques e não craques pelo apelido. Vavá, Didi, Zito, Pepe, Coutinho e Bebeto foram apelidos campeões do mundo. Mas também já tivemos Sapatão, Ventilador, Alfinete, Tinteiro, Mão de Onça, Buiú, Gatãozinho [que nunca se soube ao certo se era um pequeno gato grande ou de um grande pequeno gato], Gavião, Bozó, Rolinha, Marciano, Pé de Valsa, Serelepe, Feitiço, Pagão, Dudu, Cabeção, Palhinha e Girafa, entre muitos outros.
Se fosse hoje, Pelé não seria Pelé. Seria Edson Arantes. E não seria rei. Eduardo Gonçalves de Andrade seria um jogador comum e não o craque Tostão. Assim como Zico seria um jogador comum, se chamado Arthur Antunes Coimbra. E o que dizer de um Manuel Francisco ou Manuel Francisco dos Santos, que – além desse nome – tinha pernas tortas? Só mesmo sendo Garrincha que Garrincha venceu o improvável, foi bicampeão do mundo e comeu a Elza Soares.
Futebol brasileiro sem jogador com apelido é a mesma coisa que transmissão de jogo de xadrez pelo rádio. Os nomes atuais dos jogadores me fazem lembrar de uma novela mexicana, dos anos 80, cujo título era Cristina Bazan. Todos na novela a chamavam de Cristina Bazan. Não era Cristina ou Cris. Até a mãe a chamava pelo nome completo: “O que você tem? Está triste, Cristina Bazan?”
Sim, eu sei que apelido não garante um time bom, mas ao menos dá tempero. Mestre Chico Anysio jurava que, em tempos outros, o Ferroviário do Ceará possuía três atacantes que se chamavam Redondo, Chiru e Cacetão. E, dizia ele que muitas vezes um jogo ruim transformava-se em interessante a partir das palavras do comentarista:
— O Ferroviário tá jogando errado. Redondo não pode ficar na frente. Lugar de Redondo é atrás. Além disso, todo mundo sabe que o Redondo precisa abrir para o Cacetão poder penetrar.
Lindo. Maravilhoso. Temos isso hoje? Não no futebol, só na novela das nove.
Não se trata de comparar o futebol de hoje com o de ontem. Nem de se achar que só por ser de ontem era melhor que hoje. Ontem também havia muito jogo ruim e muito jogador ruim de bola com ou sem apelido. Mas tudo era mais leve, amador, romântico.
Os jogos de várzea – que, em sua maioria, tomaram Doril – proporcionavam cenas inesquecíveis por causa dos apelidos dos jogadores. É só lembrar o que se conta no folclore da várzea a respeito da dupla de zagueiros de um time: Calcinha e Sutiã. Rezava a lenda que Calcinha tinha esse apelido por viver sempre grudado nas mulheres. Já Sutiã era assim chamado por levar qualquer jogada no peito e na raça.
Durante a partida de estreia da dupla, Calcinha – que era um zagueiro botinudo – foi expulso. Inconformado, Sutiã saiu em defesa do companheiro e acabou sendo expulso também. O técnico partiu para tirar satisfações com o árbitro e o pau comeu solto.
Uma senhora, que passava por ali, quis saber o motivo da briga e a explicação que lhe foi dada teria sido a seguinte:
— O pau tá comendo porque o árbitro tirou Calcinha e Sutiã que o técnico tava estreando.
A velha fez o sinal da cruz e foi embora rapidinho resmungando algo do tipo “não tem jeito, esse mundo tá perdido”. Ao que se sabe, nunca mais ela passou nem ao menos perto de um campo de várzea.
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Imagem: Túlio Nassif/Portal TT
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