Ado, Gilmar e Zetti viram jogos do time canarinho em copas do mundo do banco de reservas. Fotos: Marcos Júnior Micheletti/Portal TT

Ado, Gilmar e Zetti viram jogos do time canarinho em copas do mundo do banco de reservas. Fotos: Marcos Júnior Micheletti/Portal TT

Disputar uma Copa do Mundo, o sonho maior dos jogadores de futebol.

Para aqueles que jogam "na linha", mesmo sabendo que não são os titulares, há sempre a esperança de participar de alguma partida, quem sabe entrar no final, quando o treinador começa a pensar no próximo adversário e decide poupar algum "intocável".

Para os goleiros, entretanto, a situação é diferente.

O chamado "homem de confiança" do técnico normalmente passa incólume durante o período de um Mundial.

No caso da seleção brasileira, nos anos em que foi campeã, assim foi com Gylmar dos Santos Neves nas campanhas vitoriosas em 1958 e 1962, Félix em 1970, Taffarel em 1994 e Marcos em 2002.

Porém, alguns goleiros que eram unanimidades em seus clubes, não lograram o mesmo êxito em se tratando de seleção brasileira. Assim, seguem alguns exemplos.

RESERVAS DE LUXO

Ado, reserva em 70

ADO

O catarinense Eduardo Roberto Stinghen, o Ado, disputou uma única Copa do Mundo, no México, em 70, ano em que o Brasil conquistou o tricampeonato.

Titular absoluto do Corinthians na época, Ado era considerado por muitos como o melhor goleiro brasileiro, mas Zagallo optou por um nome mais experiente para vestir a camisa 1 do time canarinho, no caso, Félix, do Fluminense.

Revelado pelo Londrina-PR, Ado chegou ao Parque São Jorge em 1969 e deixou o clube no começo de 1975. No ano anterior havia perdido a titularidade após se desentender com o técnico Sylvio Pirillo, que colocou o argentino Buttice na meta alvinegra.

Depois de defender o Corinthians, Ado passou por diversos clubes, entre eles o América-RJ, Atlético-MG, Portuguesa e encerrou sua carreira em 1982, pelo Bragantino.

 

Marcos e Ceni em 2002

ROGÉRIO CENI, OFUSCADO POR MARCOS E DIDA

O principal nome da meta do São Paulo em todos os tempos, Rogério Mücke Ceni não foi titular da seleção brasileira nas duas copas em que esteve presente, 2002 e 2006, anos em que os titulares foram Marcos e Dida, respectivamente. Em 2002 foi o segundo reserva (Marcos foi o titular e Dida o reserva imediato). Em 2006 foi o reserva de Dida. Júlio César completou o quadro de goleiros.

Em sua trajetória pela seleção brasileira, disputou apenas 17 partidas, a maioria delas amistosas.

Com sua marca registrada, de goleiro marcador de gols, também não obteve êxito neste quesito defendendo o time canarinho, mesmo autorizado a cobrar faltas por Emerson e Leão e Carlos Alberto Parreira, que foram seus treinadores. Debaixo das traves da seleção sofreu 14 gols.

Castilho e Gylmar em 58

CASTILHO, TITULAR APENAS NA COPA DE 54

Carlos José Castilho, titular absoluto do Fluminense, clube em que atuou entre 1946 e 1964), foi reserva em três mundiais (de Barbosa em 1950 e de Gylmar em 1958 e 1962), e disputou apenas a Copa de 1954, na Suíça, tendo como reservas Veludo e Cabeção.

Na opinião de Waldemar Micheletti, de 80 anos, publicitário aposentado, Castilho foi um dos melhores goleiros que viu jogar.

"Ele tinha o mesmo nível do Barbosa em 1950, por isso, qualquer um dos dois poderia ser titular naquele mundial, e o Flavio Costa  optou pelo goleiro vascaíno. Em 1954, ano em que foi titular, ele realmente era o melhor dos três, superior ao Veludo (seu reserva no Fluminense) e ao Cabeção, do Corinthians", lembra Waldemar, que considera Gylmar dos Santos Neves como o melhor de todos.

Castilho também teve uma boa carreira como treinador de futebol. Comandou o Santos na conquista do Campeonato Paulista de 1984. Sofrendo de depressão, se suicidou em 1997, ao saltar da cobertura em que sua ex-esposa residia, em Bonsucesso, no Rio de Janeiro.

Manga e Gylmar foram a 66

MANGA, À SOMBRA DE GYLMAR, DISPUTOU UM JOGO NA COPA DE 66

Haílton Correa de Arruda, o Manga, absoluto na meta do Botafogo-RJ entre 1959 e 1968, enfrentou a dura concorrência de Gylmar dos Santos Neves e Castilho neste período, e só teve chance de disputar o Mundial de 1966, na pífia campanha brasileira na Inglaterra.

Do banco de reservas viu a vitória brasileira sobre a Hungria por 2 a 0 e a derrota para a Hungria, por 3 a 1, resultado que fez com que Vicente Feola optasse por grandes alterações na equipe, uma delas no gol, com a substituição de Gylmar por Manga para a partida diante de Portugal, que acabou com vitória dos patrícios por 3 a 1 e a consequente eliminação do escrete canarinho.

Se Manga não teve sucesso à frente da meta da seleção brasileira, depois das glórias pelo Botafogo ainda brilhou muito no Beira-Rio, levantando a taça pelo Inter de forma consecutiva nos Brasileiros de 1975 e 1976.

Zetti, Branco e Cafu em 94

ZETTI, ÍDOLO DO SÃO PAULO, RESERVA DE TAFFAREL

Armelino Donizetti Quagliato, o Zetti, reinava absoluto no gol são-paulino em 1994 e não foi surpresa na convocação feita por Carlos Alberto Parreira para a Copa de 1994, nos Estados Unidos, onde a seleção brasileira conquistou o tetracampeonato.

Assim como Rogério Ceni, que em 1994 era seu reserva na meta tricolor, Zetti também foi campeão pela seleção brasileira mas não na condição de titular, posto que coube a Taffarel, nome fundamental na decisão por pênaltis na final diante da Itália.

Dos quatro grandes de São Paulo só não jogou pelo Corinthians. Foi goleiro do Palmeiras, São Paulo e Santos. Encerrou sua carreira em 2001, defendendo o Sport Recife.

 O OUTRO GILMAR

Gilmar Luis Rinaldi foi revelado na ótima escola de goleiros do Sport Club Internacional. Depois passou pelo São Paulo e era o camisa 1 do Flamengo em 1994, ano da Copa do tetra nos Estados Unidos. Porém, Taffarel era o favorito de Parreira, que tinha como seu reserva imediato Zetti (São Paulo). Assim, o gaúcho de Erexim foi o terceiro goleiro brasileiro naquele mundial.

Por outro lado, dez anos antes, na "Sele-Inter" dos Jogos Olímpicos de 1984, em Los Angeles, foi o titular do time que ficou com a medalha de prata.

Gilmar Rinaldi e Mauro Galvão nos Jogos Olímpicos de 1984, em Los Angeles. Segundo reserva da seleção na Copa de 94, Gilmar foi o titular na medalha de prata da "Sele-Inter"

WENDELL "BATEU NA TRAVE"...

Wendell Lucena Ramalho era nome certo da delegação brasileira que foi à Copa da Alemanha em 1974. Então no Botafogo, rivalizava com Renato (do Flamengo) como melhor goleiro do futebol carioca. Ambos, porém, não conseguiriam desbancar Leão da condição de titular, que vivia uma fase excelente defendendo o gol palmeirense.

Porém, uma lesão acabou impedindo que Wendell fosse ao seu único Mundial e, com isso, Waldir Peres (do São Paulo) foi chamado para o seu lugar.

Clodoaldo, Wendell, Nelinho, Marco Antônio e Enéas durante a execução do Hino Nacional Brasileiro antes de amistoso da seleção contra a Romênia, 2 a 0 para o Brasil, gols de Leivinha e Edu. A partida foi disputada em 17 de abril de 1974 e Wendell era nome certo para viajar para a Alemanha integrando a delegação para a Copa, mas uma lesão o impediu

 CURIOSIDADES SOBRE ALGUNS GOLEIROS

Carlos foi o titular em 86

CARLOS, FAMA DE AZARADO: DOIS MUNDIAIS COMO RESERVA E UM COMO TITULAR

Carlos Roberto Gallo foi o segundo reserva consecutivamente nos mundiais de 1978 e 1982, e ganhou a camisa 1 em 1986.

Fazia uma boa Copa no México, mas na disputa por pênaltis, na cobrança de Bruno Bellone a bola bateu na trave, depois nas suas costas e entrou.

O Brasil acabou eliminado e Carlos ganhou a fama de azarado, uma injustiça, aliás, pela ótima carreira que o goleiro revelado pela Ponte Preta teve ao longo de muitos anos.

Jogou também no Corinthians, Palmeiras e Atlético-MG, entre outros.

Ado, Leão e Félix em 70

EMERSON LEÃO, QUATRO COPAS: RESERVA EM DUAS E TITULAR EM OUTRAS DUAS

Alguns casos chamam atenção, como o de Emerson Leão.

Segundo reserva na Copa de 70 (Félix, do Flu era o titular, e o primeiro reserva era Ado, do Corinthians), a então estrela ascendente do Palmeiras viu o triunfo do tri no México do banco de reservas, e nos dois mundiais em que foi titular (1974 e 1978), foi quarto e terceiro colocado, respectivamente.

Em grande forma em 1982, foi preterido por Telê Santana, que colocou Waldir Peres na titularidade no Mundial da Espanha e ainda levou Paulo Sérgio e Carlos para a suplência.

Tentando se redimir do erro absurdo, Telê foi ainda mais infeliz e chamou Leão para o banco de reservas na Copa do México de 1986, como segundo reserva, a exemplo do que foi em 1970. Carlos foi o titular e Paulo Victor o primeiro imediato.

Para o jornalista Milton Neves, Leão foi injustiçado em 1982.

"O Leão deveria ter sido o titular na Copa de 1982, na Espanha. Era, naquele momento, o melhor goleiro do País", pondera Milton, que também lembra de outro nome injustiçado, o gaúcho Valdir Joaquim de Moraes. Na opinião dele, o nome certo para a Copa de 1966.

"O Valdir, que não disputou nenhuma Copa do Mundo, estava em fase exuberante, ganhando tudo pelo Palmeiras, e deveria ter sido o goleiro brasileiro na Copa de 1966, na Inglaterra. Aliás, o time do Palmeiras deveria ter sido a base daquela seleção", avalia Milton Neves.

"Valdir Joaquim de Moraes (à direita, com Ademir da Guia) deveria ter sido o goleiro na Copa de 1966 ", avalia Milton Neves. Foto: Marcos Júnior Michelett/Portal TT

 

Félix, o titular em 70

FÉLIX, O TITULAR QUESTIONADO

“Pelo menos quando eu morrer, que parem de dizer que o Brasil ganhou a Copa de 70 `apesar do Félix´. O Barbosa foi crucificado por não ter ganho a Copa de 50 e eu por ter ganho a Copa de 70. Duas grandes injustiças!”, dizia o saudoso Félix.

Talvez a melhor resposta aos críticos do ex-goleiro da Portuguesa e Fluminense, seja a defesa na cabeçada fulminante de Lee, da Inglaterra, na Copa de 70, na apertada e difícil vitória do time canarinho.

O goleiro brasileiro impediu o gol inglês e foi corajoso ao dividir a bola com o atacante, fazendo a chamada defesa em "dois tempos".

Aliás, aquele jogo foi inesquecível também para o arqueiro da Inglaterra, Gordon Banks, que fez aquela que é considerada uma das defesas mais difíceis de todos os tempos. 

Abaixo, veja alguns lances de Brasil 1 x 0 Inglaterra na Copa de 70, no México, com as defesas de Félix e Gordon Banks.

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