Meus caros e minhas caras, o futebol é passional. Isso o garoto aprende logo nos primeiros joguinhos na escola, quando seus pais brigam para defender os filhinhos de sete anos que estão querendo apenas se divertir. Quando se fala de time profissional, então, isso sempre leva a decisões precipitadas e, geralmente, deficitárias.
Aquele velho ídolo que volta da Europa mais velho, fora de forma, louquinho para se aposentar, encontra no seu ex clube o refúgio ideal, onde continuará recebendo um altíssimo salário para fazer bem menos do que antes. Com técnicos é igual. Qualquer problema, chamam o mesmo que já passou por ali incontáveis vezes.
Bem, esse vínculo comandado pela emoção pode dar certo em alguns casos, claro, mas quase sempre é sinal de saídas fáceis para situações complicadas. A falta de títulos, ou de dinheiro, dificilmente é resolvida por meio de velhas fórmulas. Palmeiras e Flamengo fugiram desse roteiro e por isso hoje lideram disparado o nosso futebol.
Este ano venceu o Flamengo, superando o seu rival paulista nas últimas rodadas, mas se pegarmos os últimos dez anos de Brasileiro veremos que o Palmeiras ganhou quatro, o Flamengo três e depois, com um título para cada, aparecem Corinthians, Atlético Mineiro e Botafogo.
Há pouco mais de dez anos a situação era bem diferente. Mergulhados em dívidas, os grandes rivais do momento cometiam os mesmos erros de sempre, aqueles que fazem grandes camisas perderem valor e prestígio. Então, no mesmo ano de 2013 surgiram dois ótimos gestores que começaram a mudar a história.
O Flamengo teve a sorte de ser presidido por Bandeira de Mello, um dirigente atípico, bem menos vaidoso do que a maioria, mais preocupado em resolver a questão financeira e fiscal do clube do que ser badalado pela imprensa. Até porque o Flamengo devia R$ 800 milhões e caminhava para a insolvência.
Então Bandeira fez uma auditoria nas contas, renegociou dívidas, cortou gastos e adotou a transparência administrativa. Com isso, três anos depois voltou a investir no futebol (contratando quase um elenco todo de santistas) e alcançando seu primeiro título brasileiro na nova fase em 2019.
Com o Palmeiras a situação não foi muito diferente. Com dois rebaixamentos e um quase, seu futebol andava ao Deus dará quando Paulo Nobre assumiu a presidência e promoveu um choque de gestão de verdade. Renegociou dívidas, buscou novos patrocinadores e chegou a colocar dinheiro do bolso para cobrir alguns buracos.
É claro que a inauguração do belo e moderno Alianz Parque, o estádio mais bem localizado do País, e a administração de Leila Pereira completaram o ciclo positivo do Palmeiras, mas, justiça seja feita, tudo começou com o revolucionário trabalho de Paulo Nobre.
Por fim, um detalhe que demonstra a solidez e a racionalidade do planejamento de um clube: a permanência do técnico. Sabia que o Grande Santos foi comandado por Luiz Alonso Peres por 13 anos seguidos? Pois é. Agora lemos que tanto o campeão Filipe Luís como o vice Abel Ferreira devem continuar nos dois melhores clubes de futebol do Brasil. Os outros que se cuidem.