Brincalhão no ringue, boa pinta, jovem, rico e amante de famosas atrizes como Mae West, Greta Garbo, Jean Harlow e Dorothy Dunbar, Max Baer tinha realizado os sonhos de muitos homens antes dos trinta anos, mas mesmo assim não conseguia dormir.
Em 25 de agosto de 1930 enfrentou em São Francisco Frankie Campbell, o qual após uma seqüência de socos faleceu no ringue, o maior preocupado com sua saúde foi o próprio adversário, Max Baer. Ambos pugilistas apenas seguiram as instruções do árbitro para "continuar lutando enquanto o oponente estivesse de pé?, "proteger-se o tempo todo? e que "faltas não intencionais não seriam reconhecidas?.
No 2º assalto, Campbell mandou o Arlequim do Boxe, um dos apelidos de Baer, para a lona e foi comemorar com seus fãs, o opositor rapidamente se levantou e pegou-o sem guarda encaixando uma potente direita na parte traseira da cabeça de Frankie devolvendo o knockdown.
Campbell voltou e venceu o 3º e 4º rounds, porém no 5º recebeu uma seqüência devastadora que apenas as cordas o mantinham de pé, e Baer seguindo as instruções da autoridade no ringue bateu completando o seu trabalho, o árbitro errou ao não interromper a luta ao perceber que o atleta perdera os sentidos, seus segundos também erraram ao não atirar a toalha.
Frankie seguiu para o hospital e Max o visitou, ao encontrar a futura viúva Ellie Campbell pediu desculpas e ela retornou: "Poderia ter sido você?. O neurologista Dr. Tilton E. Tillman diagnosticou que a causa do falecimento foram socos sucessivamente distribuÃdos para a mandÃbula e não o do 2º round. O cérebro do pugilista estava morto, totalmente separado do crânio.
No dia seguinte o jornalista esportivo Bob Shand escreveu: "Ninguém se sente pior pela morte trágica no fim do combate do que Baer. O grande jovem está de coração partido e pronto para se aposentar?. Mesmo com a vÃuva e a mãe de Campbell não prestando queixa à s autoridades o promotor público prestou queixas e Max recebeu uma suspensão de um ano no território da Califórnia, mal sabiam os acusadores que cairia nos vÃcios da bebida e tabaco além de só conseguir dormir uma hora por noite.
Max perdeu o prazer pelo boxe mesmo sendo um dos maiores nocauteadores do esporte que em decorrência dessa morte poupou muitos adversários. Um deles Ernie Schaff.
A morte de Schaaf cai sobre Baer
No primeiro encontro de Max Baer e Ernie Schaaf em 1930, o segundo saiu vitorioso, e se enfrentaram novamente dois anos após, em uma luta de inÃcio monótono a qual o árbitro comentou: "tornem-se mais aguerridos?. De acordo com os jornais da época, Baer atacou com suas fortes seqüências o que levou Ernie a ser nocauteado somente após o gongo final o salvando do resultado e dando a perda por pontos, mas ficou na lona por cinco minutos.
Após o combate, Schaaf ficou como quinto do ranking e derrotou mais dois oponentes, foi considerado melhor que o italiano Primo Carnera, e consequentemente batalhou contra este em 10 de fevereiro de 1933. O gigante europeu de 1,97m dominou o combate com socos direcionados à cabeça de Eddie que foi vÃtima de um nocaute ao 13º assalto, o público vaiou pensando ser uma marmelada.
Alguns crÃticos até acreditaram nessa possibilidade, pois assim o então campeão Jack Sharkey teria em Carnera um oponente mais valioso, e o italiano já tinha algumas de suas vitórias questionadas. A morte de Schaaf três dias depois confirmou que não houve tramóia.
A autopsia revelou que o pugilista estava com meningite, uma inflamação em parte do cérebro e para agravar o quadro contraiu o vÃrus da gripe. Porém o escritor Grantland Rice acusou Baer de ser o responsável por ter nocauteado Schaaf cinco meses antes da luta com Carnera. Essa alegação foi reforçada no filme A Trágica Farsa (1956) com Humphrey Bogart, na qual Baer interpreta um pugilista que afirma ter matado outro e que o personagem principal, que tem semelhanças com Primo, não foi o responsável pela morte.
Nocauteando e deformando rivais até o cinturão
Baer sentindo-se culpado pelas mortes passou a "segurar? mais o peso de sua mão, uma das mais fortes em toda história do boxe. Em 8 de julho de 1933 diante de 53 mil fãs no Yankee Stadium no Bronx, estado de Nova York, nos EUA, transformou o rosto do alemão Max Schmeling em pudim e vendo que o ex-campeão mundial não desistia pediu ao árbitro Arthur Donovan para encerrar a peleja: "isto parece ser o fim?.
Schmeling era o favorito do Führer Adolf Hitler, mesmo contra sua vontade, e Baer utilizou a estrela de Davi em seu calção. Desde então se tornou popular com a comunidade judaica e aqueles que repudiavam o nazismo. O pai de Max, Jacob Baer era judeu, sua mãe Dora Bales descendia de escocês e irlandeses protestantes.
O playboy dos ringues caiu na noite, conheceu a Broadway com seus carros luxuosos, prédios vistosos, letreiros grandiosos e lábios femininos fogosos. Era difÃcil treinar, muitas coisas passavam por sua cabeça jovem e tantos corpos pelos lençóis da sua cama, anônimas e famosas.
No dia 14 de junho de 1934, com onze quedas sobre o gigante italiano de 1,97m e 125 kg Primo Carnera, Max Baer se sagrou campeão mundial dos pesados e enviou o europeu para a obscuridade.
O trono e a coroa seriam perdidos para o "homem comum? James J. Braddock, pugilista de pouco talento, mas enorme força de vontade. O combate entre ambos lembra a história da lebre e da tartaruga.
O Arlequim continuou rindo nas noites regadas de prazeres, enquanto Braddock, homem de famÃlia, seguia sua rotina árdua. Baer não levou o rival à sério e Braddock venceu nos pontos fazendo valer o apelido de "Homem Cinderela? no dia 13 de junho de 1935. Após o embate declarou: "Braddock pode ter o cinturão. Ele tem cinco filhos. Eu não sei quantos eu tenho?.
A morte pugilÃstica de Baer ocorreu em setembro de 1935 diante do também lendário Joe Louis, então um jovem em ascensão. O ex-campeão mundial não foi eficiente na luta e sofreu sua primeira queda no 2º assalto ficando apoiado em apenas um joelho.
No 4º round um gancho de esquerda do "Bombardeiro Marrom? deixou o Arlequim mais uma vez de joelhos e o árbitro encerrou a contenda. Semanas depois foi revelado que Baer lutou com sua mão direita quebrada, resultado do combate com Braddock, ou seja, se apresentou ao duelo sem sua melhor pistola.
Nascido no dia 11 de fevereiro de 1909, faleceu de ataque cardÃaco em 21 de novembro de 1959. Não levou a carreira com seriedade, por outro lado foi vilanizado pela imprensa. Viveu seus prazeres e ao contrário do que acontece com muitos atletas, principalmente pugilistas, deixou os ringues com conforto financeiro.
Cinderela Man acusa o homem errado
O filme A Luta pela Esperança (2005) com Russell Crowe mostra Max Baer como um vilão e não um homem com suas qualidades e seus defeitos, muito menos o exime de sua culpa pelo acidente com Frank Campbell, o qual acompanhou até sua morte.
A interpretação de Craig Bierko é limitada e compromete o legado do pugilista tornando-o em personagem de quadrinhos. No livro O Homem Cinderela de Jeremy Schaap (2005) Baer tem suas complexidades de sua personalidade mais exploradas. Para se fazer justiça seria honesto uma cinebiografia ou um livro relatando a ascensão e a decadência deste que é um dos mais interessantes nomes do boxe.
Gabriel Leão
Imagem: @CowboySL
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