Leandro e a camisa do CSE, de Palmeira dos Índios (AL), onde Graciliano Ramos foi prefeito. Foto: Arquivo Pessoal

Leandro e a camisa do CSE, de Palmeira dos Índios (AL), onde Graciliano Ramos foi prefeito. Foto: Arquivo Pessoal

Cresci em Quipapá, Pernambuco, distante uns 10 quilômetros da divisa com Alagoas. A cultura alagoana, especialmente o futebol, acompanhou minha existência.

Nasci numa família apaixonada por futebol e talvez um dos primeiros contatos que tive com esse esporte foi numa reunião de amigos do meu pai... para assistir uma fita VHS do filme " Isto é Pelé". O máximo que sabia dele era sua recente participação no filme dos Trapalhões, fui pelo encantamento infantil de ver um Vídeo-cassete.

A sala na casa de Zé Mário ficou lotada. Meus irmãos, primos e eu ficamos espremidos abaixo da mesa de Centro na sala, contudo era um camarote pleno para ver o Rei. Foi admiração ao primeiro gol, uma sensação indescritível observar aqueles movimentos, a velocidade e a genialidade... o soco no ar naquele instante superava a força do He-Man ou o olho de Thundera.

O legado do Rei chegava aos meus olhos. Os anos passaram e fui estudar em Garanhuns, o Edson havia me decepcionado por sua atitude com sua filha Elisa, mas o Pelé seguia indestrutível.

Na minha sala tinha um gênio no futebol de salão, até hoje desconfio que não cobrava a mensalidade dele para "descontar" nos jogos escolares. Diziam que era genética, o pai dele enfrentou Pelé na inauguração do estádio Rei Pelé em Maceió. Certa vez num trabalho escolar fui até a casa desse amigo e perguntei sobre esse encontro com o Rei.

O homem "molhava" os olhos para descrever Pelé. Talvez foi a primeira vez que vi uma poesia falada sobre futebol. Todos aqueles comentários que ouvi com quatro anos estavam duplicando com onze anos. A vida seguiu, a era digital chegou e a obra do Rei ficou mais acessível.

Tornei-me dentista e tive a oportunidade de trabalhar em outra cidade próxima ao estado de Alagoas. Numa folga fui conhecer Dois Riachos, que assim como Três Corações, havia brotado uma dinastia imperial. Que for ao sertão de Alagoas tem a certeza plena do gigantismo que é a vida de Marta.

Insuperável, linda, popular e carismática... Marta merece todas as honrarias possiveis para o eternidade da sua história, mas algo que seja criado, nunca retirado ou alterado.

Nesse país bipolar, duas representatividades máximas da pátria não podem duelar no embate ideológico. Pelé é um patrimônio do país, não tem limites geográficos ou longas estadias para classificar se ele representa ou não um estado. Não se rasga a "certidão de nascimento" de um estádio por adequação com a atualidade.

O nome Marta deve representar uma enorme vila olímpica, uma linda arena ou estádio em qualquer cidade do Brasil e que daqui a 50 anos jamais seja substituído por outro ou outra craque. Na terra de Floriano, Graciliano, Lêdo, Djavan, Heloisa, Ana Lins, Dandara... Cada um vai contar a História, mas não se apaga uma criada para escreve-se outra por cima.

*Leandro Paulo Bernardo é Cirurgião Dentista e especialista em futebol nordestino. Pernambucano de Garanhuns, mas criado em Quipapá. Tem o coração dividido entre a Portuguesa e o Santa Cruz

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