Foto: Ivan Storti/Santos FC

Foto: Ivan Storti/Santos FC

Não houve rebelião. Nenhum jogador levantou a voz para pressionar o treinador português. A mudança aconteceu após muita conversa. E, é bom que se diga, o próprio Jesualdo Ferreira, experiente que é, com carreira sólida de professor de grandes técnicos em Portugal, deu sinais de que estava disposto a ouvir as reivindicações dos líderes do time santista.

Liderados pelo uruguaio Carlos Andrés Sánchez, com o apoio incondicional do volante Alison e do lateral Pará, os jogadores chamaram Jesualdo para uma conversa.

Após a derrota por 2 a 0 para o Ituano, em que o time, principalmente no primeiro tempo, foi vergonhosamente apático e só não sofreu mais gols porque o goleiro Éverson estava inspirado e fez grandes defesas, o técnico português e sua comissão técnica foram chamados para um papo reservado.

Alison falou mais do que Carlos Sánchez, o capitão e jogadormais badalado da equipe. O argumento utililizado foi o de que o time tinha de voltar a fazer pressão alta no campo adversário. E mais: Jesualdo ouviu também que os jogadores já estavam acostumados a fazer marcação implacável no jogador adversário que tivesse o domínio da bola. E que, se preciso fosse, esta marcação seria feita por dois ou até três, com um mordendo o calcanhar do inimigo e dois na sobra.

Jesualdo Ferreira disse que o seu plano era fazer com que o time começasse a marcar a saída de bola do time rival no decorrer da Copa Libertadores da América. Os jogadores responderam que se sentiam em condições de aumentar o rítmo de pressão já no clássico contra o Palmeiras.

Jesualdo Ferreira concordou. E assim foi feito no primeiro tempo do clássico. O Santos surpreendeu o Palmeiras, que encontrou muitas dificuldades para sair da marcação. Felipe Mello foi quem mais sofreu. Em um lance, foi pressionado por Yuri Alberto e teve de apelar para a falta. Yuri Alberto, aliás, foi a surpresa de jesualdo Ferreira. Atacante de bom porte físico, jovem, com fôlego suficiente para fazer a marcação alta no campo adversário, foi o destaque do time. Deu muito trabalho para a defesa palmeirese, especialmente para Felipe Mello.

O time só caiu de rendimento na segunda etapa do clássico, porque Felipe Jonatan e Alison tiveram de ser substituídos por lesões. Com Luiz Felipe na zaga e Luan Peres na esquerda e Jobson como volante, o time afrouxou a marcação e deu espaços para o Palmeiras melhorar e equilibrar a partida.

Jesualdo Ferreira não ficou incomodado com o fato de os jogadores terem mostrado o desejo de que o time voltasse a jogar como no ano passado, quando era dirigido pelo argentino Jorge Sampaoli.

Antes de assumir o comando da equipe, o técnico português viu vários vídeos com jogos da equipe santista comandada por Sampaoli. E gostou. Disse isto na sua apresentação. Elogiou a determinação dos jogadores na marcação, na velocidade, nos deslocamentos e, principalmente, na obediência tática ao que o treinador argentino pregava nos treinamentos.

A equipe, a partir do jogo com o Palmeiras, mudou o seu comportamento em campo. E para isto, a comissão técnica teve de mudar também os métodos de treinos no CT Rei Pelé.

A metodologia implantada por Jorge Sampaoli e sua comissão técnica ano passado, passou a ser colocada em prática pelo estafe de Jesualdo Ferreira. Para correr mais nos jogos, o time terá de ter mais fôlego. E a condição física aprimorada é resultado de treinos mais intensos, com menos tempo de duração, mas, em compensação, com muito mais intensidade. Foi o que já viu na semana que antecedeu o clássico com o Palmeiras e nos dias que antecederam a partida de estreia na Libertadores da América, contra o Defensa y Justicia, na Argentina.

De agora em diante, a pedido dos jogadores, o Santos de Jesualdo Ferreira, será muito semelhante ao elogiadíssimo time de Jorge Sampaoli, que não conquistou títulos em 2019, mas que terminou a temporada como vice-campeão brasileiro e com uma goleada sobre o Flamengo de Jorge Jesus, por 4 a 0, na Vila Belmiro.

Em 2019, os jogadores do Santos compraram a ideia de Sampaoli. Os métodos de trabalho de Sampaoli deixaram seguidores no elenco, que agora querem que Jesualdo Ferreira seja um aliado. O experiente treinador, pelo menos por enquanto, não dá sinais de que não vai se curvar aos anseios de seus comandados.

Longe da Vila Belmiro, contratado pelo Atlético Mineiro, Jorge Sampaoli vê, mesmo que à distância, seus métodos serem aplicados no time em que ganhou notoriedade no futebol brasileiro.

 

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