Português escancara a mediocridade da maioria dos técnicos brasileiros. Foto: C.R. Flamengo/Divulgação

Português escancara a mediocridade da maioria dos técnicos brasileiros. Foto: C.R. Flamengo/Divulgação

Definitivamente, o que se viu ontem à noite no Maracanã não acontece com muita frequência. Em um duelo que colocou frente a frente duas das camisas mais pesadas do futebol nacional, disputando vaga na final do principal torneio da América do Sul, poucos imaginariam um massacre tão grande quanto o ocorrido. 5 a 0. Isso mesmo! CINCO A ZERO. O Flamengo de Jorge Jesus impôs este placar humilhante ao Grêmio de Renato Gaúcho. E não foi em uma partida qualquer. Foi na semifinal da Libertadores. Jogo histórico. Resultado histórico, que reverberará na memória de rubro-negros e tricolores por toda a eternidade.

Logo que foi definido o confronto entre os brasileiros, a tônica era esta: veríamos os dois times que mais jogam bola no país se enfrentando. E, de fato, isto é correto. Flamengo e Grêmio são as duas equipes nacionais que praticam um futebol satisfatório aos olhos daqueles que prezam por um jogo ofensivo e bem jogado. Contudo, ninguém esperava a disparidade observada ao longo das duas partidas. Esta diferença gritante se deve, e muito, a um único homem: Jorge Jesus.

O português assumiu o Flamengo no meio da temporada e tem realizado um trabalho impecável. É verdade, e há que se destacar, que o “mister” dispõe de um elenco muito qualificado para trabalhar. Mas, também é verdade, que este mesmo elenco nas mãos de Abelão não rendia nem 20% do que rende hoje em dia. JJ, como é chamado em Portugal, trouxe para o Brasil ideias de jogo que há muito não víamos. E olha que o lusitano não é um técnico top de linha em nível europeu.

Entretanto, estamos tão defasados com os treinadores brasileiros (salvo alguns poucos) e seus estilos conservadores e covardes que a arejada trazida pelo português escancarou a mediocridade a qual nos acostumamos nos últimos anos. Temos que ser gratos pelo que Jorge Jesus vem fazendo, não só pelo Flamengo, mas também pelo futebol brasileiro como um todo. Temos que ser gratos por Sampaoli, que tira leite de pedra com o elenco mediano que possui o Santos e joga na cara de todos que sim, é possível ter uma proposta ofensiva mesmo sem contar com grandes craques. Renato, apesar da surra de ontem, também se salva em meio ao mar de mesmice: seu Grêmio, por algum tempo, representou o sopro de bom futebol aqui na terra de Pelé.

Fico me perguntando agora quais serão as desculpas dos ultrapassados treinadores brazucas ao observarem o show que o treinador do Flamengo vem nos propiciando. Estão com medo? Se sentem ameaçados? Conseguirão sair do ciclo vicioso do resultadismo, do jogar para manter o emprego e da reserva de mercado? Sairão da zona de conforto e buscarão se atualizar? Quem sabe...

O fato é que Jorge Jesus deixou claro que é possível (e mais fácil) alcançar os resultados desejados através de um futebol ofensivo e dinâmico. Seu Flamengo não se contentou com a vantagem construída em Porto Alegra. Fez 1 a 0, 2 a 0, 3 a 0 e nocauteou o oponente, garantindo vaga à final de modo categórico e irrepreensível. Será que veríamos o espetáculo de ontem se qualquer outro treinador brasileiro estivesse à frente do Rubro-Negro? Creio que não. Após o 7 a 1, o futebol, novamente, concede a oportunidade de reflexão para treinadores e cartolas do Brasil. Saberemos aproveitar e evoluir?

* Renan Riggo é jornalista esportivo (A Folha Esportiva) e assessor de imprensa da PPress Marketing e Comunicação

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