Ninguém quer que o Jesualdo Ferreira seja uma cópia de Jorge Sampaoli. Foto: Ivan Storti/Santos FC

Ninguém quer que o Jesualdo Ferreira seja uma cópia de Jorge Sampaoli. Foto: Ivan Storti/Santos FC

Foram dois jogos apenas. Empate sem gols contra o RB Bragantino e vitória, suada e questionável, pois o adversário, o Guarani, jogou melhor e criou mais chances de marcar, a partir do momento em que ficou com dez jogadores em campo. As duas partidas sem nenhum encanto foram suficientes para que torcedores santistas iniciassem uma campanha nas redes sociais implorando a volta de Jorge Sampaoli.

A hashtag #voltasampaoli é inoportuna, tem muito a ver com os nossos tempos, em que as pessoas, cada vez mais imediatistas, querem resultados rápidos, para ontem. O português Jesualdo Ferreira acabou de desembarcar na Vila Belmiro. Começou a trabalhar em 8 de janeiro. Passados apenas vinte dias, é uma insanidade dessa gente apressada querer que ele já mostre serviço.

Isso é um fato. O português pegou um time que perdeu todo o seu setor defensivo. O goleiro Vanderlei e o lateral-direito Victor Ferraz foram para o Grêmio. Gustavo Henrique se curvou ao dinheiro do hoje milionário Flamengo, Jorge voltou para o Mônaco e Lucas Veríssimo ainda não entrou em campo por causa de uma lesão muscular.

Se o “professor” Jesualdo Ferreira, é assim que ele gosta de ser chamado, utilizar este argumento estará coberto de razão. É verdade, não é fácil começar o trabalho em uma equipe que perde toda o seu setor defensivo de uma temporada para outra.

E o português não teve também o baixinho Soteldo nos embates contra o RB Bragantino e o Guarani. Servindo à seleção venezuelana, o arisco ponta foi um tremendo desfalque nos dois jogos. Pronto, os argumentos de Jesualdo terminam aí. Agora vamos ao que o time mostrou nos dois confrontos. Já deu para ver que o treinador não é adepto da marcação alta. Este ponto fica claro assim, que o jogo começa. Na gestão de Jorge Sampaoli, o time santista iniciava o duelo mordendo no campo ofensivo, não dando a menor possibilidade de o adversário respirar.

Isto não foi visto nas duas partidas. Um atacante ou outro ainda se aventurava a ir marcar o inimigo que tentava iniciar o jogo em seu setor. A questão é que, olhando a movimentação santista em campo, dava para notar que as suas linhas estavam recuadas. Sem a compactação necessária para pressionar os defensores adversários.

Ou seja, a ordem de Jesualdo é para que o Santos só comece a dar combate a partir do meio-de-campo. Outro aspecto que fica evidente no Santos de Jesualdo é que o time não vai partir com volúpia para tentar roubar a bola quando ela estiver com o adversário. Era o que Sampaoli chamava de “amor pelo balón”. O amor pela bola significava que o Santos tinha de marcar o oponente de maneira obsessiva.

Ou seja, o jogador rival que estivesse com a bola sofria a marcação de dois e até três jogadores do Santos. Era bonito de ver. Assim que o time de Sampaoli perdia a “pelota” iniciava uma batalha insana para recuperá-la.

Era o grande segredo de um time, que mesmo sem grande estrelas e com muito menos poderio do que o Flamengo, o campeão, e o Palmeiras, o terceiro colocado, fez uma campanha elogiável. Ficou com o vice campeonato do Brasileirão do ano passado e encerrou o ano com uma exibição de gala, goleando o badalado Flamengo na Vila Belmiro, por 4 a 0.

A impressão que fica é que o Santos trocou o ritmo alucinante que exibia em 2019, por uma postura morna, modorrenta, eu diria, em 2020. Trocou o rock pelo bolero, como bem escreveu este Terceiro Tempo após o empate com o RB Bragantino.

Jesualdo ainda tem muito tempo para mudar a impressão que o amante do futebol está tendo a respeito de seu trabalho. Ele, ao contrário de Sampaoli, que vivia pedindo reforços, silenciou em relação ao elenco santista. O clube tem parcos recursos financeiros para ir ao mercado. O Campeonato Paulista que se inicia será uma boa vitrine para Jesualdo mostrar que quem anda pedindo a sua saída não passa mesmo de gente açodada, apressada demais. Mas que a amostra não empolga isto é inquestionável.

E, caro Jesualdo, de nada vai adiantar você, ou o senhor, se é que me permite, ficar irritado com os questionamentos feitos pelos jornalistas nas entrevistas coletivas. Isto, como gosta de dizer Vanderlei Luxemburgo, “pertence ao futebol”.

Ninguém quer que o Jesualdo Ferreira seja uma cópia de Jorge Sampaoli. O que se espera é que o Santos mostre em campo um futebol mais competitivo, de mais marcação e movimentações rápidas.

Se não mudar a performance e seguir na marcha lenta de Jesualdo Ferreira, o Santos correrá o risco de ter uma temporada tenebrosa, e de correr sérios riscos de ficar no lado de baixo da classificação.

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