Eu estava no apartamento do meu pai, assistindo Corinthians e Itumbiara pela Copa do Brasil.
O Corinthians já tinha marcado o segundo gol ? e mostrava que tinha mais bala na agulha para liquidar a parada.
Então, o técnico corintiano chamou o suplente Ronaldo. Eu nunca tinha visto, ou melhor, ouvido algo parecido: uma substituição de um jogador provocar uma ensurdecedora queima de fogos. O suplente Ronaldo entraria na partida.
Nos poucos minutos em que esteve em campo, causou palpitação em todos os corações. A televisão dava picos de audiência. Havia esperança no ar.
No lance mais agudo, um habilidoso meia do Corinthians parte pela direita com o zagueiro em seu encalço. Pela esquerda, livre, vem o suplente Ronaldo.
Não apenas os corintianos. Naquele instante o mundo inteiro murmurou: toca! toca!... Mas o habilidoso meia não tocou.
Ronaldo faria o gol ? Provavelmente sim. Talvez não. Não importava mais. No fundo foi melhor assim. Caso o suplente Ronaldo perdesse a chance, na cara do gol, os implacáveis de plantão bradariam:
Tá acabado!; não é mais de nada; gordo!; baladeiro...
Foi melhor assim. O Destino reservava algo melhor ao suplente Ronaldo.
Eu estava no apartamento do meu cunhado, assistindo Palmeiras e Corinthians. Ele e meu sobrinho, palmeirenses doentes. Eu corintiano roxo.
Um primeiro tempo morno. Gol do Palmeiras e, os dois, principalmente meu sobrinho, jogando pra fora sua emoção após a bola estufar as redes do goleiro corintiano.
Então, o técnico corintiano chamou o suplente Ronaldo. Eu já tinha visto, ou melhor ouvido algo parecido: a substituição provocou uma ensurdecedora queima de fogos. O suplente Ronaldo entraria na partida.
Nos minutos em que esteve em campo, antes do derradeiro escanteio, Ronaldo causou palpitação em todos os corações. A televisão dava picos de audiência. Havia esperança no ar.
De fora da área, o suplente Ronaldo manda um chute forte para o gol palestrino. A viagem da bola encontra a trave superior. Eu nem pude esmurrar o sofá. Não estava em minha casa. Nessas horas respeito é bom e todo mundo gosta.
Em outro lance, Ronaldo vem pela esquerda, ganha na corrida do zagueiro e cruza para a cabeçada de um corintiano. O goleiro espalma evitando o gol de empate.
O tempo foi passando e, numa bola dividida entre um corintiano e um palmeirense, o Destino a faz respingar aqui e ali. Então, a multicolorida ultrapassou a linha de fundo. Escanteio para o Corinthians. É o último lance do jogo.
Um corintiano bate o córner aberto. A bola descreve uma parábola e entra na grande área.. Avança pela pequena área. Encontra a cabeça do suplente Ronaldo.
A convulsão da Copa de 98, a rótula escancarada para o mundo, os gritos de dor. As noites de encontros e desencontros. Tudo estava dentro daquela bola que rompeu a linha derradeira.
Eu corri para a cozinha. Fechei a porta e gritei pra dentro. Não estava em minha casa. Nessas horas respeito é bom e todo mundo gosta.
Meu cunhado e meu sobrinho não esmurraram o sofá. No fundo eles sabiam que isso iria acontecer. Todos sabiam.
Porque Ronaldo é o titular de todos os corações.
Benedito Ruy Barbosa, que completa 93 anos, foi repórter de campo, escreveu livro sobre Pelé e esteve em Muzambinho
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