Na festa de Neymar, em plena pandemia, o celular é proibido e a máscara é opcional. Foto: Reprodução

Na festa de Neymar, em plena pandemia, o celular é proibido e a máscara é opcional. Foto: Reprodução

Sempre adorei Neymar com a bola nos pés, dentro de campo e enlouquecendo zagueiros brucutus das mais variadas nacionalidades. E, na mesma intensidade, também sempre torci o nariz para o camisa 10 da seleção em quase tudo o que envolve o extracampo.

Nunca criei grandes expectativas quanto ao comportamento do menino que insiste em não virar adulto. Fora de campo, pode parecer exagero, mas sempre esperei de Neymar qualquer coisa longe do melhor – para não dizer o pior. Por isso, fiquei positivamente espantado quando o mesmo abraçou a causa antirracista, principalmente após o caso de injúria racial envolvendo o quarto árbitro do duelo entre o PSG e o Istanbul Basaksehir, pela Liga dos Campeões da Europa.

Mas, francamente, dava para imaginar que o imaturo craque do PSG não demoraria a deixar com cara de tacho todos os apressadinhos que passaram a chamá-lo de “Adulto Ney” após sua exemplar postura diante deste lamentável episódio. E com uma molecagem digna de um adolescente de 16 ou 17 anos: uma festa para 500 pessoas enquanto o Brasil vê diariamente o número de mortos pela Covid-19 disparar.

Mas, como já disse que de Neymar espero fora de campo algo muito longe do melhor, não me surpreendi. Assim como não me surpreendo, principalmente aos finais de semana, quando abro as redes sociais e percebo quantos “Neymares”, que nunca estiveram nem aí para a pandemia - ou que se cansaram de encenar -, existem na minha bolha.

Gente que aparenta até que estava esperando a pandemia começar para desbravar cada canto do Brasil. Ou então que parece publicar de propósito uma sequência de seis ou sete fotos rindo e bebendo rodeada de pessoas e meio que dizendo: “Vai, seu trouxa, no que depender de mim você não sai de casa nunca mais!”.

Checando as publicações seguintes, você infelizmente leva um choque de realidade e acaba caindo em algum post de um amigo lamentando a morte de uma pessoa próxima. O motivo quase sempre é o mesmo: Covid-19.

Sem paciência, cheguei a escrever para um amigo que estava anunciando, no Facebook, uma vaga em uma casa do litoral paulista para passar a virada do ano – casa topzêra, escreveu um colega dele nos comentários. Eu queria perguntar se ele reservaria também uma vaga na UTI para mim ou para quem por ventura eu pudesse passar este maldito vírus. Escrevi, mas não mandei. Valeria a pena tentar dialogar com uma pessoa que fez e faz questão de esfregar na nossa cara que não se importa minimamente com o próximo?

Bom, e é assim que eu encaro esta nova polêmica envolvendo o camisa 10 da seleção. Por conviver e conhecer há tempos os “Neymares” da minha bolha eu sei que não adianta nada ficar gastando nosso latim com o “menino” que virou o símbolo dessa minha egoísta geração. Eu já larguei mão. Faço a minha parte pelo coletivo sem esperar absolutamente nada em troca.

Adianta alguma coisa? Bom, provavelmente muito pouco. Mas aí cabe bem aquela boa e velha frase, geralmente atribuída ao genial Millor Fernandes: “Se você agir sempre com dignidade, pode não melhorar o mundo, mas uma coisa é certa: haverá na Terra um canalha a menos”.

 

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