Nagib Izar, sogro “na marra” de Gylmar dos Santos Neves, jamais aceitou o namoro, noivado e muito menos o casamento de sua única filha, Rachel, com o então goleiro-galã do Corinthians.

Mas o amor falou mais alto, casaram-se, nasceram três filhos e por 17 anos (!!!) o radical “Seo” Nagib nunca mais falou com a filha a partir de 1954, com o genro (seria a primeira vez) e nem conheceu os três netos.

Ignorou até o casamento na igreja e a festa de comemoração em 1960. Mas, dia 25 de outubro de 1971, de repente, Nagib ligou para sua filha Rachel para que todos passassem o dia com ele e com sua esposa Najla, no bairro do Paraíso, em São Paulo.

Foram, almoçaram, brincaram, se abraçaram como se nada tivesse acontecido naqueles 17 anos e foram embora no final de tarde.

Lá pelas 11 da noite Rachel recebe telefonema da mãe Najla.

“Seo” Nagib Izar tinha acabado de morrer de infarto!

Foi premonição, remorso ou coincidência?

Enterro realizado, no Araçá, em 26 de outubro de 1971, família consternada, dona Najla Curi Izar desesperada, com o saudoso cunhado de Gylmar, Ricardo Izar, ex-deputado federal, e o irmão Roberto, impressionados com a premonição do pai.

A família então passou a cuidar do inventário do que deixou o empresário Nagib Izar, dono de fábrica de cartonagem (papel, papelão e embalagens), no bairro do Tatuapé.

Marcou-se uma reunião de todos na sede da empresa com a presença de advogados, contadores e de um tabelião.

Mas a reunião emperrou porque um enorme cofre, da época da Segunda Guerra Mundial, ninguém conseguia abrir.

E lá dentro estava toda a vida econômico-financeira do patriarca. 

Chamaram os mais competentes e famosos “cofreiros” de São Paulo e... nada!

Três deles fracassaram depois de horas e deixaram a sala.

O que fazer?

Enquanto todos discutiam até mesmo a possibilidade de uma pequena explosão do cofre, Gylmar, mais afastado do grupo por ser discreto e “apenas” cunhado, ficou de costas para o cofre e aleatoriamente girava o seu relógio de controle.

Girou umas sete ou oito vezes, sempre depois apertando a maçaneta e de repente... o cofre se abriu!!!!

Sem querer, lotericamente e de costas, Gylmar acertou a combinação.

Foi algo sobrenatural.

Espanto e emoção na sala de reunião, procedeu-se então a verificação do conteúdo guardado como documentos, inventário, escrituras e investimentos de “Seo” Nagib Izar.

Ao que a fiel secretária do então turrão sogro de Gylmar se antecipou e apanhou as muitas pastas que ocupavam quase a metade do cofre.

Estendeu-as na enorme mesa de reunião e ninguém conseguiu conter as lágrimas.

Pois ali estavam catalogadas e colecionadas todas as fotos do namoro (a partir de 1954), noivado (em 1958) e casamento (em 1960) de sua filha Rachel com o famoso Gylmar, bem como as capas de revistas e fotos dos três netos.

E dona Baije, a secretária, contou que por 17 anos (!!!) “Seo” Nagib Izar, ao chegar logo cedinho para o trabalho, TODO DIA, ficava por uma hora folheando suas pastas, vendo página por página e foto por foto da família da filha.

As páginas estavam todas puídas na parte de baixo que Nagib diariamente manuseava e manuseou por anos e anos a fio.

Ou seja, o radical, turrão e “imperturbável” Nagib Izar resistiu o quanto pôde para mostrar que era contra o casamento de sua única filha com um “simples jogador de futebol” porque “esse pessoal nunca dá boa coisa”.

E como deu, hein?

Gylmar grande atleta e grande caráter, era cobiçado nos anos 50 por 10 de cada 10 mulheres do Brasil, mas apaixonou-se em poucos olhares por Rachel em piscina de um hotel de Águas de Lindóia onde o Corinthians estava concentrado e paulistanos ricos passavam férias.

Vendo que a filha estava muito “acesa” e ligada no goleiro famoso, fechou a conta e abreviou sua estada de férias e levou toda a família de volta para São Paulo.

E o amor continua vencendo, mesmo no céu.

O beijo de despedida de Raquel em Gylmar no dia 26 de agosto de 2013, durante o velório realizado no Cemitério do Morumby, em São Paulo. Foto: Marcos Júnior Micheletti/Portal TT

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