O discurso é de que tudo mudou. Na Fifa de Gianni Infantino, não há espaço para a corrupção e todas as transferências de dinheiro seriam 100% controladas. Na busca por credibilidade, a entidade máxima do futebol demitiu dezenas de pessoas e trocou de forma radical os membros de seu Conselho, o órgão que de fato toma decisões. Mas, quando os centenas de cartolas voltaram a se reunir em Paris nesta semana para o Congresso da Fifa, uma coisa não havia sido modificada: seu gosto pelo luxo.
Dados obtidos pelo UOL mostram que os congressos anuais da entidade são orçados em vários milhões de dólares. Em 2017, a festa e as reuniões dos comitês custaram US$ 14,8 milhões. Em 2018, apenas o Congresso da Fifa em Moscou custou outros US$ 11 milhões, além de US$ 5 milhões para pagar pelas viagens dos dirigentes, hotéis e custos com as reuniões de comitês.
Salão da conferência anual da Fifa, que reelegeu Gianni Infantino
Imagem: Jamil Chade/UOL
Para a festa deste ano, em Paris, os números ainda não estão fechados, mas fontes dentro da entidade apontam que os valores ficariam "em linha" com os gastos de 2017 e 2018. Apenas para hospedar seus principais dirigentes, a Fifa gasta pelo menos US$ 600,00 por noite. E a opção foi por fechar um dos hotéis mais luxuoso de Paris. Na portaria, seguranças deixaram claro que jornalistas não são bem-vindos.
Salão do Hotel Salomon de Rothschild, em Paris, onde foi realizado o Congresso da Fifa
Imagem: Jamil Chade/UOL
Antes mesmo de o Congresso começar, a reunião preliminar do Conselho da Fifa em Paris foi realizado sob forte segurança no luxuoso Hotel Salomon de Rothschild, da família de banqueiros francesa Rothschild. Apenas o aluguel de uma sala por meio período no prédio custa 12,5 mil euros.
Para cada um dos 211 presidentes de federações nacionais, a Fifa ainda enviou um cheque para bancar cada um deles pela capital francesa. Por dia, uma "compensação" de US$ 250,00 foi destinada a cada dirigente que viajou, gratuitamente, até Paris. Nem todos gostaram. A queixa principal era de que o dinheiro não seria dado em envelopes. Mas depositados nas respectivas contas dos dirigentes.
Mais rica do que nunca, a Fifa acumula reservas de US$ 2,7 bilhões. Os gastos com a festa e o Congresso, portanto, não seriam desproporcionais. Mas, dentro da entidade, a crítica que se faz é sobre as prioridades. Para o Mundial Feminino, que começa no fim de semana na França, a Fifa vai distribuir em prêmios apenas US$ 30 milhões. A seleção campeã do mundo ficará com US$ 4 milhões, muito menos da metade do valor gasto para cuidar dos dirigentes que se reúnem uma vez por ano.
Polonês Zbigniew Boniek (direita) conversa com italiano Fabio Capello no congresso da Fifa
Imagem: Jamil Chade/UOL
O UOL esteve dentro do local reservado aos cartolas, em Paris. Ali, num canto, o polonês Zbigniew Boniek conversava com Fabio Capello. Numa outra mesa, presidentes de clubes como Boca Junior ou Penarol trocavam suas opiniões sobre Paris. Não faltavam sheiks, presidentes de super-equipes como o Real Madrid, ex-jogadores, príncipes locais e super-modelos.
Num dos cantos de uma sala enorme, os cartolas poderiam até mesmo se passar por árbitros e testar o funcionamento do VAR. O sistema foi aprovado por eles mesmos. Mas não eram poucos os que se divertiam se passando por auxiliares. Outros ainda tiravam selfies, com os telões de fundo.
O Congresso ainda reservava um espaço bem menos frequentado: um local onde os dirigentes conheceriam os novos mecanismos de controle do dinheiro distribuído pela Fifa. Nos próximos quatro anos, Infantino prometeu distribuir um total de R$ 6,5 bilhões às federações nacionais, cinco vezes mais que Joseph Blatter fazia.
Estande apresenta o VAR para os dirigentes da Fifa
Imagem: Jamil Chade/UOL
Um cartola africano, pedindo para não ser identificado, explicou que o procedimento para receber o dinheiro era o mesmo da década passada. Agora, segundo ele, sua federação apenas tem de preencher mais papeis. "Há muita burocracia", lamentou. O presidente da Fifa, porém, justifica que não irá tolerar a corrupção.
Mas, nem tudo mudou. Há apenas poucas semanas, a entidade foi obrigada a suspender um dos membros do Conselho da Fifa, Lee Harmon, presidente da Associação de Futebol de Cook Islands. Motivo: ele foi pego revendendo ingressos que sua federação havia recebido gratuitamente para os jogos da Copa de 2018, na Rússia. A seleção do pequeno país jamais sonharia em participar do evento. Mas seu chefe sabia exatamente o que fazer com os ingressos.
Saudade: Há seis anos morria Antoninho, ex-zagueiro do Palmeiras e Ferroviária
24/04/2024Evento amistoso em Curaçao reunirá jogadores brasileiros que estiveram na conquista do Tetra
24/04/2024Achados & Perdidos: Há 33 anos o Corinthians era eliminado da Libertadores pelo Boca Juniors
24/04/2024Ninguém segura o Corinthians rumo à queda. Por Wladimir Miranda
24/04/2024Depois de vencer a primeira na Libertadores/2024, Flamengo encara a altitude boliviana; as formações
24/04/2024