Clubes que viveram filas imensas aumentaram sua torcida no passado; por que essa relação está tão esquizofrênica hoje em dia? Foto: Fernando Santos/Folhapress

Clubes que viveram filas imensas aumentaram sua torcida no passado; por que essa relação está tão esquizofrênica hoje em dia? Foto: Fernando Santos/Folhapress

Neste domingo (09), estive na Vila Belmiro para narrar Santos x Atlético-MG, pela oitava rodada do Brasileirão. Um estádio sempre peculiar, pela história embarcada e seu simbolismo, que em qualquer país europeu estaria lotado toda rodada, porém, ontem tinha muitos lugares vazios. O time da casa, recém-eliminado da Copa do Brasil pelo mesmo adversário, tinha que superar a depressão e buscar a vice-liderança do campeonato. E conseguiu. Mesmo assim, os poucos que lá estiveram cantaram ao final do jogo: “Se quarta-feira não ganhar, o pau vai quebrar”, referindo-se ao clássico contra o Corinthians. Sem entender, perguntei-me: que amor é esse? Não há data melhor do que a chegada do Dia dos Namorados para abordar o tema.

A torcida do Santos passou de 1984 a 1997 sem conquistar títulos, purgando entre o gol de Serginho Chulapa contra o Timão até o emocionante 4 a 3 contra o Flamengo pelo Torneio Rio-SP. Nesse período, claro, houve protestos, crises, demissões de treinadores, mas houve a presença do torcedor na antiga Vila do gramado “marrom”. Com um jogo que valia a vice-liderança do maior campeonato do país, apenas 3500 ingressos haviam sido vendidos antecipadamente neste domingo. Além de exigente, o torcedor brasileiro anda ausente. Foi assim até no jogo da Seleção Brasileira, contra a fraquíssima Honduras, perto de 16 mil torcedores no Beira-Rio. Falta interesse? Neymar fora não chama público? Mas onde foi parar a identificação do torcedor pelo distintivo, independentemente do resto?

O corintiano passou 23 anos sem um título entre 1954 e 1977, e tornou-se ainda mais popular, com a devoção da Fiel ampliada pelo jejum que se fez marca do clube. O Palmeiras ficou 16 temporadas sem conquistas, entre 1976 e 1993, quando quebrou a sequência de forma épica contra seu maior rival paulista. Neste período, mesmo com times paupérrimos, em nenhum momento o “palestrino” abandonou o time. O mesmo com o Atlético-MG em relação a títulos de expressão similar ao primeiro Campeonato Brasileiro, em 1971. Foram três gerações sem grandes conquistas até a Libertadores de 2013. Mesmo assim, a massa atleticana se mantinha firme. Aparentemente os tempos são outros e, se o grande Oliver, um dos sedutores do extinto Teste de Fidelidade, apresentado por João Kleber na RedeTV, colocasse a prova esse sentimento, talvez muitos torcedores cairiam nos gritos do apresentador.

Coloquemos como exemplo o São Paulo FC, clube que foi exemplo de organização, vanguarda e títulos, nos anos 90. Sua última conquista foi a Copa Sul-Americana de 2012, torneio menosprezado por muitos, mas celebrado com muito ardor por Rogério Ceni e Lucas Moura, que fazia sua despedida naquele jogo de um tempo só disputado contra o Tigre-ARG, no Morumbi. Desde então, a vida política do clube ganhou mais as manchetes do que a equipe em campo. Juvenal, Aidar, Leco e suas decisões erráticas tornaram infernal a vida do time, que oscila entre uma semifinal de Libertadores e fugas de rebaixamento desde então. E o torcedor? O são-paulino, nos momentos de baixa nos últimos anos, não compareceu. Apenas quando o ingresso caiu a menos de 10 reais e o time vivia o desespero no Brasileirão, eles estiveram lá. Também nos poucos momentos de esperança de coisas maiores, fato. No entanto, isso não é fidelidade.

Amar um clube vai muito além do resultado em campo, mais do que jogar bonito ou feio, mais do que um ou outro jogador que não transpira o quanto você gostaria. Declaração de amor a um clube é estar presente na vitória e, principalmente, na derrota. É seguir essa paixão contribuindo com seu grito de guerra, seu ingresso pago, bandeira, apoio e aplauso. Promessas violentas, xingamentos e ódio não ajudam ninguém a jogar mais futebol, não constroem clubes vencedores. Apenas impõem testosterona ignorante para marcar presença pela força, que não ajuda. Isso não é amor. Companheirismo, parceria, carinho e também uma DR, de vez em quando, fazem parte de um bom relacionamento. Seja na sua vida, seja no futebol, faça diariamente seu teste de fidelidade, torcedor. Caso não passe, procure auxílio.

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