Olá.

Preciso me apresentar. Eu sou a trave.
Normalmente as pessoas me evitam, já que posso machucar ou evitar a felicidade de alguém.
Sou espectadora de luxo do jogo, mas prefiro a discrição.

Lionel, eu tenho visto seus passos por aqui há muitos anos, quando seus cabelos falavam mais que sua voz por aí.
Lembro de sua cabeça baixa, olhos fixos na bola, correndo pelo gramado como um quero-quero, sem importar-se com os marcadores.
Ia passando, cortando, driblando e a bola ali, coladinha aos seus pés, como um urso de pelúcia.

Sabe, não há momento melhor para observar seu talento do que em uma cobrança de falta.
Daqui eu percebo o desespero do goleiro tentando montar uma barreira minimamente eficaz.
Tipo o Trump com aquele muro ridículo na fronteira com o México. Não adianta nada.
É nessa hora que você me nota. Sirvo de referência para você! Que honra!

Vez ou outra você me acerta e eu entendo. É seu jeito de mostrar carinho. A bola chega aqui de olhos arregalados e quase gritando ("Vai bater!"), se choca comigo e vai embora. Mas brilhante mesmo é quando você consegue colocá-la aqui pertinho de mim, junto ao travessão que pesa sobre meus ombros.

Dou aquela olhadinha pra direita e só ouço o barulho do roçar nas redes. Vluch!!! Milhares gritam o gol, o arqueiro aqui embaixo cai de joelhos, os zagueiros colocam as mãos no rosto. Flashes, muitos flashes para você, Lionel.

E eu fico aqui, com minha tinta branca, emulando um sorriso que eu não tenho.

33 anos. Como passa rápido. Hoje suas palavras são maiores que seu cabelo…

Um conselho? Preferia vê-lo de madeixas longas.

Obrigado por dividir seu talento com esse humilde poste.

É lindo te ver jogar.

Parabéns. Saúde. Sucesso você já tem.