Declaração de Marcelo Medeiros merece o mesmo repúdio que a atitude do grupo de torcedores

Declaração de Marcelo Medeiros merece o mesmo repúdio que a atitude do grupo de torcedores

Por Airton Gontow

Todo Brasil viu a cena. No último sábado, uma mulher e uma criança são acuadas por torcedores do Inter. A mãe é xingada e empurrada, enquanto um grupo, comandado por uma mulher irada, tenta arrancar de suas mãos a camiseta do Grêmio, que ela exibira segundos antes para torcedores gremistas situados no anel de cima do estádio. A criança, ao lado da mãe, chora desesperadamente.

Pouca gente percebeu, mas a nota oficial da direção colorada, assinada pelo presidente do clube, Marcelo Medeiros, apesar do belo final, foi tão ou mais grave que a atitude dos vândalos que, claro, não representam a maioria da torcida colorada. Diz o começo da nota: “Lamentamos o triste episódio ocorrido ao final do clássico Grenal. No mínimo não houve bom senso dos adultos envolvidos em preservar uma criança diante do momento...”

É uma declaração desastrosa, leviana e absurda, que em nada combina com as inúmeras ações coloradas em prol da diversidade e da solidariedade. Pede desculpas pelo ocorrido, mas divide a culpa entre agressores e agredida. O certo seria: “Não houve bom senso do grupo de torcedores colorados em preservar uma mulher e uma criança que estavam sozinhos, acuados e intimidados dentro do estádio”.

Medeiros age irresponsavelmente como aqueles que justificam um estupro porque a mulher provocou ao usar uma minissaia.

A geralmente sensata equipe da SporTV/Premiere também pisou feio na bola. Pelo trecho da narração parece que a virulência da agressão a uma mulher gremista acompanhada por uma criança assustada é atenuada ou até justificada por ela estar no “lugar errado”. Pior ainda foi a postura da apresentadora Renata Fan, que hoje, dia 22 de julho, durante o programa "Jogo Aberto", na TV Bandeirantes, pateticamente condenou também a mulher agredida que não soube seguir o, nas palavras dela, "beabá do futebol".

Mãe e filho não estavam provocando a torcida adversária, nem ninguém. Neste caso, não importa se a mulher se excedeu, se confiou que em uma praça esportiva as pessoas têm espírito desportivo, se não aguentou de felicidade pelo gol gremista que evitou a derrota ou se julgou que ao final do jogo o perigo havia terminado. Não há atenuantes para os agressores.

Outro absurdo do fato é quando olhamos para o cachecol da torcedora que xinga, empurra e expulsa a mãe gremista com a criança.

Ela é da Torcida AntiFascista do Inter!

Vemos com clareza o rosto autoritário e covarde que se engrandece diante da fragilidade do “Outro”.

Estar em maioria só a engrandece!

O choro da criança só a fortalece!

Totalitarismo no estado puro!

É um retrato do que acontece em nossos estádios, mas também na sociedade brasileira.

E na nossa política.

A negação do direito do Outro.

O ódio ao Outro.

O desejo de expulsar ou até de eliminar o Outro.

Paradigma também de “Democratas” de ambos os lados do espectro político do País.

Desde sempre tirando a legitimidade do outro lado, demonizando quem pensa diferente, achando-se acima do bem e do mal.

O cachecol antifascista dessa mulher monstro colorada representa as inúmeras pessoas que pensam ou fingem falar em nome da liberdade, mas não passam de totalitárias.

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Airton Gontow é jornalista, cronista e diretor do site de relacionamento Coroa Metade e do canal de YouTube “Mundo Coroa”

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