Matéria do jornalista Maurício Sabará sobre o clássico Portuguesa de Desportos x Juventus

Matéria do jornalista Maurício Sabará sobre o clássico Portuguesa de Desportos x Juventus

Hoje darei sequência à série “clássicos de todos os tempos”. Para realizar tão árduo trabalho, manterei a base dos principais jogadores, aqueles que mais de identificaram com a camisa que vestiram, mas modificando a formação do jeito mais atual possível, optando por escalar três jogadores no meio de campo e mais três no ataque. E geralmente terá um ponta fixo e um lateral ofensivo do outro lado.

Um detalhe que ainda preservarei é a obrigatoriedade de ter três recordistas na equipe titular. Quem tem mais anos de clube, maior número de partidas disputadas e o goleador principal, além de outros fatos marcantes.

No meu caso, continuarei a questão de não repetir o jogador, para que se possa ter uma idéia de um campeonato. Determinado futebolista foi muito importante em mais de um time, mas levarei em conta onde se destacou melhor.
Segue a terceira parte com os times paulistas.

A Associação Portuguesa de Desportos foi fundada na cidade de São Paulo em 14 de agosto de 1920. Como indica o nome, sempre foi constituída por portugueses, abrasileirando-se depois. Foi bicampeã paulista de 1935/36 pela APEA, mas obviamente que sua melhor fase ocorreu na primeira metade da década de 50, ganhando dois Interestaduais e marcantes excursões no exterior. Ainda seria campeã estadual em 1973 (dividindo com o Santos) e vivendo bons períodos depois. Quem vê hoje a Portuguesa não imagina o passado glorioso que teve!

No gol da Portuguesa de todos os tempos optei pelo famoso Félix, que também teve uma brilhante fase no Fluminense (era goleiro do clube carioca quando o Brasil foi tricampeão do mundo em 1970), mas foi na Lusa que de fato apareceu para o futebol, tendo grandes momentos em boa parte dos anos 60. Seu reserva é Caxambu, um dos melhores arqueiros do futebol paulista na década de 40 e primeiro do Brasil a aplicar as defesas com pontes, jogadas plástica que tantos outros fariam depois. Nos anos 50 nomes como os de Muca e Lindolfo também seriam destaques, além de Zecão, campeão de 1973.

Como lateral-direito com certeza Djalma Santos é uma unanimidade, um patrimônio do clube, com grandes jornadas nos inesquecíveis anos 50, orgulho dos torcedores de ser representante do time na Seleção Brasileira campeã mundial de 1958 e também muitas vezes escolhido no Palmeiras de todos os tempos, onde brilhou com a mesma estrela. As atuações de Djalma eram um espetáculo a parte, com sua técnica fantástica, marcação de primeira, arremessos laterais e muita facilidade pra cobra penalidades, o que fazia dele um craque perfeito na posição, mesmo não tendo características ofensivas, o que na época não era exigido, embora se saísse bem quando fazia tal função. Na reserva aparece Zé Maria (não confundir com o famoso Super Zé do Corinthians, que também atuou na Lusa), sendo esse da década de 90, fazendo parte de um importante time.

A zaga da Lusa é composta por Marinho Peres e Capitão. Marinho fez parte de uma grande fase do time, entre 1967 e 1972, que embora não tenha sido campeão é sempre lembrado pelos torcedores mais antigos, além de ser considerado um dos melhores zagueiros do seu tempo, jogando na Copa do Mundo de 1974, quando pertencia ao Santos. Capitão foi um símbolo de várias fases da equipe e recordista de partidas. Hermínio, reserva imediato, é ao lado de Félix o recordista de temporadas, mas muitas vezes foi banco. E Ceci, vigoroso zagueiro do maior time luso de todas as épocas.

Pela lateral-esquerda vale destacar o fabuloso Zé Roberto, Prata da Casa do Canindé, que fez uma bela carreira no exterior e ainda se encontra em atividade no Palmeiras, esbanjando categoria e vigor com seus 43 anos.

Mesmo Capitão sendo médio-volante principalmente, optei de escalá-lo na zaga (também atuou por lá), sem dúvida que para a posição era necessário um jogador de muita categoria, portanto cabe à Brandãozinho representar o coração da equipe, um craque de muita categoria, o melhor volante brasileiro entre 1952 e 1954. Badeco é o reserva ideal, excelente volante que esteve presente em duas finais do Campeonato Paulista, sendo campeão em 1973 e vice dois anos depois.

O que dizer de uma dupla de meias formada por Enéas e Denner? Um foi o maior e melhor craque luso da década de 70, um gênio capaz de realizar jogadas antológicas, muitas vezes comparadas às de Pelé. E o outro era a principal promessa do futebol, também comparado ao Rei do Futebol, autor de belíssimos gols e jogadas de pura arte, tristemente falecido em um acidente de automóvel no ano de 1994 quando estava no Vasco. Renato, meia-direita do esquadrão da primeira metade da década de 50, já vinha desde os anos 40, encantando seus torcedores com suas belas atuações. Pelo lado esquerdo Edu Marangon é uma boa alternativa, sendo um dos principais jogadores do time vice-campeão paulista de 1985, com uma categoria admirável nos chutes à gol.

Julinho Botelho muitas vezes é eleito como ponteiro direito de todos os tempos dos times que atuou, mas escolhi ele na Portuguesa, clube que explodiu para o futebol e infernizando as defesas adversárias com sua extrema habilidade e velocidade, além de ser onde anotou o maior número de gols. Toquinho é um reserva de respeito, algo que pode se orgulhar por causa do titular, também sendo um ponta-direita veloz, de grande destaque no time de Edu. Outro que pode ser lembrado é o Ratinho. Vale citar Filó, que teve grandes participações no Paulistano, Corinthians e futebol italiano, o primeiro jogador brasileiro campeão do mundo, pela Itália em 1934.

No comando do ataque Ivair é a melhor alternativa, ídolo maior dos anos 60, ficou conhecido pelo apelido de Príncipe, pois seu futebol foi quase tão nobre quanto o de Pelé, o Rei. Nininho, centroavante do famoso ataque formado por Julinho, Renato, ele, Pinga e Simão, sem dúvida é o reserva ideal, pois foi responsável por muitos gols que garantiram o sucesso da histórica linha.

E pra finalizar com “chave de ouro”, escalo o maior goleador da história da Lusa, que é o Pinga, que teve um irmão também possuidor de faro de gol (Pinga II), um atacante habilidoso e que depois fez outra bela carreira no Vasco. Optei por Simão na reserva, que compunha com Pinga a ala-esquerda. Nomes como os de Wilsinho
Para técnico, mesmo com todo o carisma de Candinho, entendo que Oto Glória é quem merecer a Portuguesa ideal, muito experiente e que teve papel fundamental para o título paulista de 1973.

PORTUGUESA DE DESPORTOS (1920 A 2017)

Titular: Félix, Djalma Santos, Marinho Peres, Capitão e Zé Roberto; Brandãozinho, Enéas e Denner; Julinho, Ivair e Pinga. Técnico – Oto Glória.
Reserva: Caxambu, Zé Maria, Hermínio, Ceci e Isidoro; Badeco, Renato e Edu Marangon; Toquinho, Nininho e Simão.
Mais anos: Félix e Hermínio – 12 (Como Hermínio não é o recordista único, optei por ele na reserva)
Mais partidas: Capitão - 496 (1988 a 1997 e 2003/2004)
Mais gols: Pinga - 202 em 270 jogos (1944 a 1953)

O Clube Atlético Juventus foi fundado na cidade de São Paulo em 20 de abril de 1924. Está localizado no Bairro da Mooca, um dos mais tradicionais da colônia italiana ao lado do Bexiga, tendo seu estádio na Rua Javari e um dos mais belos patrimônios do Brasil. De certa forma é considerado o quinto maior clube da capital paulista das equipes ainda existentes. Seu apelido é Moleque Travesso, por aprontar com os grandes. Fez algumas boas campanhas no Paulistão, mas seu título mais importante foi o Campeonato Brasileiro da Série B de 1983. Em 1953 fez uma ótima excursão na Europa e no ano de 1974 ganha um torneio em Tóquio vencendo a Seleção Japonesa. É conhecido por revelar importantes jogadores e também por ter tido em suas fileiras veteranos marcantes. Claro que a minha escolha não foi pelo nome de quem jogou, mas se foi mais importante com a camisa grená do que em outros times.

Para o gol juventino optei por Carlos Pracidelli, campeão do Brasileirão da Série B, o maior título da história do clube, que também participou de boas jornadas do Atlético Paranaense e Santo André. Na reserva optei por Mão de Onça, aquele que tomou o gol que Pelé considera como o mais bonito da sua carreira, tendo boas atuações no final da década de 50.

Rapha é o lateral-direito, talentoso defensor que fez parte de um dos maiores times formado pelo Juventus, o de 1932, que foi tão bem no Campeonato Paulista.

De 1957 a 1968 Clóvis Nori defendeu o Juventus da Mooca, considerado o maior ídolo da história do clube, sem dúvida o principal zagueiro que defendeu a camisa grená, que tinha no currículo o título do IV Centenário vencido pelo Corinthians. Para completar a zaga ao lado de Clóvis ninguém melhor que Oscar Amaro, gaúcho que atuava com quarto-zagueiro, defendo o time entre 1969 e 1974, dando segurança à defesa. O lateral-esquerdo Nenê, que jogou na lateral-esquerda juventina de 1966 a 1971, foi o meu escolhido para compor a zaga reserva ao lado de Djalma, zagueiro muito ligado ao clube nos Anos 70, que além de jogador também trabalhou no Juventus.

De 1975 a 1988 Bizzi foi o lateral-esquerdo do Juventus, um exemplo de amor à camisa grená, vindo desde as categorias de base, sendo inclusive elogiado por Pelé. Pando foi um importante lateral do time na década de 50, sendo muito lembrado por um lance curioso, de ter fraturado o joelho após uma dividida com o Pelé pouco antes de ele anotar o seu famoso gol na Rua Javari.

Os irmãos Brida e Brecha formaram um fortíssimo meio de campo no começo dos Anos 70, sempre muito lembrados pela torcida. Cesar Pappiani é outro dos meias marcantes, atuando por mais de 8 anos, sendo um dos principais nomes do histórico título de 1983. Betinho foi um grande destaque juventino após 1983, importante meia. Raudinei foi contemporâneo de Betinho, sendo também muito lembrado por sua passagem no Bahia, onde fez um gol histórico, do título baiano de 1994.

Pela ponta-direita Antoninho Minhoca é o nome certo, um dos mais habilidosos jogadores do futebol paulista na posição.Edélcio começou a carreira no Corinthians, estando inclusive na partida contra o Torino de 1948, tendo também atuações pelo São Paulo, mas foi no Juventus que marcou mais, na década de 50, inclusive recebendo proposta do mesmo time italiano quando o time excursionou pela Europa em 1953. Para completar o ataque escalo o Nico, um patrimônio do clube, dos primeiros ídolos juventinos, muito destacado nas de 30 e 40. Wilson Buzzone é um nome muito identificado com a camisa grená, que entre os Anos 50 e 60 fez parte do ataque juventino, tinha faro de gol e veio a atuar na Seleção Paulista. E para finalizar escalo o Wellington Paulista, único representante do Século XXI, um dos últimos ídolos do clube.

Para comandar o Juventus ninguém melhor que Milton Buzzeto, que de ex-zagueiro do time se tornou o maior técnico da sua história.

JUVENTUS DA MOOCA (1924 A 2017)

Titular: Carlos Procidelli, Rapha, Clóvis, Oscar Amaro e Bizi; Brida, Cesar Pappiani e Brecha; Antoninho Minhoca, Edélcio e Nico. Técnico - Milton Buzetto.
Reserva: Mão de Onça, Serjão, Nenê, Djalma e Pando; Betinho, Piccinin e Raudinei; Zeola, Buzzone e Wellington Paulista.

*Pesquisei, mas sem êxito de poder citar os recordistas com a camisa juventina em anos defendidos, partidas disputadas e gols assinalados.

Imagem: Túlio Nassif/Portal TT

SOBRE O COLUNISTA

Nascido em São Paulo no dia 12 de janeiro de 1976, tenho 37 anos e sou jornalista formado pela Universidade Nove de Julho (Uninove).
 
Repórter do Blog Futebol de Todos os Tempos (FTT), apresentador dos programas Jornalismo e Cidadania da allTV e 100 Anos da Radio do Corinthians.
 
Sou pesquisador, com conhecimento em diversas áreas, principalmente ligadas ao futebol no seu contexto histór... Saiba Mais

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