Uma história de amor de um corintiano maior. Foto: Marcos Júnior Micheletti/Portal TT

Uma história de amor de um corintiano maior. Foto: Marcos Júnior Micheletti/Portal TT

Neste espaço, que habitualmente utilizo para falar sobre automobilismo, hoje abro exceção mais do que justificável.

Falarei do meu pai, Waldemar Micheletti, que partiu no último sábado (25), aos 81 anos de idade. 

De qualquer forma, o mote deste texto será o esporte, principalmente o futebol.

Principalmente o Corinthians.

Ouvi meu pai chorar uma única vez, em 1974, quando nosso time perdeu a final para o rival Palmeiras, ampliando o angustiante jejum de títulos por mais um ano.

Digo que ouvi porque não vi, de fato, meu pai chorar.

Havíamos jantado, um saboroso ravioli que minha mãe havia preparado, massa fresca comprada no Pastifício Carasi, na Mooca, com um molho encorpado que só ela sabe fazer.

Ronaldo Drummond fez o gol esmeraldino, o jogo terminou e meu pai subiu para o quarto do sobradinho. Trancou a porta à chave.

Do lado de fora, o ouvi soluçar.

Relatei isso em detalhes em outro texto sobre o Dia dos Pais, há alguns anos, e costumo republicá-lo sempre no Dia dos Pais. Está aqui.

Ao contrário da maioria dos torcedores que conheço, inclusive muitos corintianos, que torcem mais contra os outros times do que para o seu próprio, meu pai era corintiano acima de tudo.

Outros, hoje em dia, dão mais pelota à pontuação que fazem em um joguinho fictício, pelo simples gosto de tirar sarro do colega de trabalho ou do parente com quem se comunica em um grupo de WhastsApp.

Com as redes sociais, então, aquilo que deveria ser exaltado, a alegria pela vitória, transformou-se em ódio e desejo de vingança.

Claro que meu pai queria que os adversários se estrepassem, mas isso não superava seu amor pelo Corinthians.

Pouco importava se a vitória fosse por 1 a 0 sobre Palmeiras, no Pacaembu, ou 10 a 1 contra o Tiradentes, no Canindé.

Havia uma exceção: o Santos.

Por conta dos anos a fio em que Pelé fez "gato e sapato" do Timão, meu pai saboreava com prazer todas as vitórias corintianas sobre o time da Vila.

É óbvio que ele sabia da grandeza de Pelé, mas sempre saía pela tangente ao falar do moço de Três Corações.

Dizia que Leônidas da Silva (que nem jogou no Corinthians), havia sido melhor que o camisa 10 do Santos.

"O Leônidas inventou a bicicleta no futebol. O Pelé inventou o quê", desdenhava.

Mas, falando em ídolos, seus dois maiores foram Cláudio Cristovam de Pinho (o Gerente), maior artilheiro da história do Corinthians, e Gylmar dos Santos Neves, o "Goleiro Maior", aquele que considerava o melhor da história alvinegra.

Durante sua juventude, e também na vida adulta, viajou muitas vezes ao interior de São Paulo, de ônibus ou guiando seu Fusca com meu tio Luiz e meu padrinho Alberto para assistir os jogos do Corinthians.

Contra a Ferroviária em Araraquara, o São Bento em Sorocaba, e a dupla Come-Fogo em Ribeirão Preto, entre outros.

Foi um torcedor exemplar, um corintiano maior, que foi sepultado com uma camisa do Corinthians que lhe dei, com a qual assistiu ao meu lado a final do Paulista deste ano, mais um título diante da freguesa Ponte Preta.

Nem todos os torcedores são assim.

Mas, o melhor de tudo, é que meu pai foi muito bom.

Nem todos os pais são bons.

Ele foi um pai, acima de tudo, o que é sublime.

Pois discordo visceralmente da ideia de que "pai é melhor amigo".

Amigo é uma coisa muito boa.

Mas pai supera isso.

Supera o lado provedor.

Meu pai me abasteceu de amor.

E, parafraseando nosso hino alvinegro, estará, sempre, eternamente dentro do meu coração.

ABAIXO, VÍDEO PRODUZIDO POR MEU IRMÃO ROGÉRIO MICHELETTI EM 2011, À ÉPOCA PRODUTOR NA BAND. NOSSO PAI FALA SOBRE A HOMENAGEM QUE O CORINTHIANS FEZ AO TORINO

Meu pai e eu na comemoração de seus 80 anos, em 05 de dezembro de 2015. Foto: Lucas Micheletti


 

 

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SOBRE O COLUNISTA

Editor de automobilismo do Portal Terceiro Tempo, começou no site de Milton Neves em 10 de março de 2009. Também atua como repórter, redator geral, colunista e fotógrafo. Em novembro de 2010 criou o Bella Macchina, programa em vídeo sobre esporte a motor que já contou com as presenças de Felipe Massa, Cacá Bueno, Bruno Senna, Bia Figueiredo, Ingo Hoffmann e Roberto Moreno, entre outros.

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