Trazendo a análise do futebol para a complexidade, a parte física é apenas um dos aspectos do jogo

Trazendo a análise do futebol para a complexidade, a parte física é apenas um dos aspectos do jogo

Um dos termos que mais se ouve atualmente no futebol é intensidade. Tal time foi intenso por isso venceu. Ou o contrário: faltou intensidade a equipe e por isso ela saiu de campo derrotada. É claro que usar uma única palavra para descrever um conceito amplo é uma habilidade linguística. Porém, nesse caso, ao invés de ajudar, usar a todo momento a palavra intensidade em qualquer análise de jogo é reduzir e até se equivocar para sintetizar as ações dentro de campo.

Vale contextualizar que as primeiras pessoas a estudarem no futebol foram os preparadores físicos. Eles vieram das universidades e trouxeram o termo intensidade evidentemente pelo viés físico. Só que em uma carga de treino, por exemplo, intensidade é apenas um dos elementos: temos também densidade, volume, carga e etc.

Trazendo a análise do futebol para a complexidade, a parte física é apenas um dos aspectos do jogo. Ele também é técnico, tático, emocional, cognitivo, bioquímico, espiritual e outros vários etc. Para avaliar se um jogador é intenso temos que englobar todos os elementos do jogo. José Mourinho, por exemplo, disse que o jogador mais intenso que ele dirigiu foi Deco. Ora, fisicamente Deco sempre foi comum. Mas o olhar complexo mostra que ele era intenso nas tomadas de decisões, ou seja englobando todos os aspectos do jogo. Messi é capaz de correr apenas 6 km e decidir uma partida. Ele não é intenso porque não corre muito? Ou será que sua intensidade está em fazer as escolhas certas e tomar as melhores decisões possíveis para tirar vantagens sobre seus adversários?

E para analisar a intensidade de uma equipe dentro desse olhar complexo temos que citar o conceito `Objetivo e Lógica do jogo´. De maneira simples, uma equipe cumpre esses dois itens quando faz mais gols que o seu adversário. E se ela chegar a isso com o menor gasto de energia possível melhor. Eu tenho o controle do jogo não quando eu corro mais que o meu adversário. Mas sim quando eu cumpro melhor os princípios ofensivos, defensivos e de transição. E a performance de uma equipe pode melhorar proporcionalmente a uma "queda" na parte física. Isso porque quanto melhor estão organizados os conceitos e mais enraizados e somatizados no corpo dos atletas menor será o gasto físico para cumpri-los. Marcar em linha alta ou em linha baixa, por exemplo, é um detalhe que em nada tem a ver com a parte física. Lembre-se correr certo (e menos) é melhor do que correr mais e errado.

Muito cuidado ao ouvir e sair repetindo por aí que uma equipe ganhou porque foi mais intensa que a outra. Nas linhas acima trouxe um olhar sistêmico e complexo do jogo. Na maioria das vezes o jogador com mais intensidade de uma equipe é o que menos aparece para o torcedor. Não porque ele não é importante. Pelo contrário. Mas sim porque sua inteligência faz o jogo como um todo e não ele especificamente ser rápido, dominante e eficiente.

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SOBRE O COLUNISTA

Marcel Capretz é radialista e jornalista formado pela Universidade Mackenzie e pós-graduado pela Fundação Cásper Líbero. Fluente em inglês e espanhol, atualmente estuda francês. Aos 18 anos, já trabalhava na Rádio Difusora de Jundiaí. Aos 20, já tinha um programa na TV Japi de Jundiaí. Na sequência, passou por Folha de São Paulo Online, Lance!, TV Band de Campinas... Saiba Mais

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