O fundamento básico da comunicação é se fazer entender

O fundamento básico da comunicação é se fazer entender

Debater ideias é sempre interessante. Procuro aprender e crescer com pontos de vista diferentes dos que tenho. Críticas também são bem-vindas. Não aquela que diz que você é uma porcaria. Assim como aquele elogio que diz que você é o melhor do mundo também não ajuda muito. Mas apontar aquele errinho específico, aquela falha no detalhe é fundamental para o crescimento.

Só que acima de qualquer debate e crítica está a relevância do seu conteúdo. Vamos debater para ver quem é mais `inteligente´ ou para criar algo melhor juntos? Medir forças não nos tira do lugar, porque aí vamos tentar empurrar `goela´ abaixo nossa opinião um para o outro. Porém criar algo juntos, sim, compensa. Refletir sobre a prática e teorizar em cima de um futuro desejado com a contribuição de todos é algo que me fascina.

Dediquei os dois parágrafos iniciais deste texto justamente para contextualizar de maneira pormenorizada o que vem a seguir, que é mais uma vez a famigerada discussão entre debater tática ou não no noticiário esportivo. Não tem certo ou errado. Não tem melhor e nem pior. O que existe é opinião, maneira de ver o que funciona e o que não funciona para a boa comunicação.

Primeiramente, vamos combinar que o mundo mudou, ok!? Antes eu usava orelhão para falar com a minha então namorada. Hoje consigo fazer chamada de vídeo com a minha atual esposa através de um aparelho celular. Acompanhando essa evolução estão o futebol e a imprensa. E aqui é o ponto que pega muitos que atacam alguns novos termos: a preguiça de estudar as tendências do jogo. Dá trabalho. Não é fácil. Exige leitura, estudo, assistir muito jogo com um outro olhar. E também tem que gostar. E isso é importante: tem gente que não gosta de tática. Acha chato. Ok, tudo bem, respeito. Eu amo tática. Já fiz quase dez cursos na Universidade do Futebol. Já li livros sobre o tema e estudo filosofias de jogo de técnicos do mundo inteiro. Mas, repito, tudo isso porque esse assunto me atrai. Eu amo!

Porém tem o outro lado da moeda. Quanto mais eu estudo tática mais eu entendo que ela é meio e não fim. A tática serve o jogo de futebol e não o contrário. Ficar preso só ao que acontece taticamente dentro de uma partida é muito pobre. Não representa a totalidade da prática. Até porque o jogo é tático, mas é também técnico, físico, emocional, espiritual e etc e etc. Posso absorver princípios e sub-princípios ofensivos e defensivos de uma equipe, comportamentos de transição ofensiva e defensiva dela, revelar que eles estão sendo muito bem cumpridos, mas mesmo assim esse time pode perder o jogo por 1 a 0. Ou seja, a tática não explica tudo.

O fundamento básico da comunicação é se fazer entender. Se a sua mensagem não for bem compreendida a culpa não é de quem não a entendeu e sim sua que não soube se expressar de acordo com o modelo de mundo e repertório de conhecimento do outro. Em uma comunicação de massa temos de tudo. O bom comunicador é aquele que se faz entender. Por mais estudo que se tenha se quem te acompanha não te entende você não cumpriu sua missão de comunicar. Traduzir o `tatiquês´ é a chave. Porque o público entende de futebol, sim senhor. Talvez com outros termos. Mas ele sabe, por exemplo, o que é alargar o campo, conhecido também como amplitude.

Uma imprensa mais competente ajuda a formar um futebol melhor. Todos perdemos de 7 a 1 para a Alemanha, em 2014. Inclusive nós, jornalistas. Elevar o debate é fundamental. Necessário para ontem. Mas sempre se fazendo compreender.

SOBRE O COLUNISTA

Marcel Capretz é radialista e jornalista formado pela Universidade Mackenzie e pós-graduado pela Fundação Cásper Líbero. Fluente em inglês e espanhol, atualmente estuda francês. Aos 18 anos, já trabalhava na Rádio Difusora de Jundiaí. Aos 20, já tinha um programa na TV Japi de Jundiaí. Na sequência, passou por Folha de São Paulo Online, Lance!, TV Band de Campinas... Saiba Mais

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